Blog •  14/09/2023

O controle da ferrugem-asiática da soja: para além do fungicida e do vazio sanitário

Jéssica Olivier, Engenheira Agrônoma 
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ferrugem-asiática

As Boas Práticas Agrícolas prezam pelo controle integrado de doenças, o que pode ser aplicado na cultura da soja quando falamos sobre a ferrugem-asiática.

O vazio sanitário da soja consiste em um período de 90 dias, no mínimo, em que as plantas de soja, sejam elas cultivadas ou voluntárias, não podem ser mantidas vivas, seja em qualquer estádio de desenvolvimento em área determinada pelo MAPA.

A ferrugem-asiática da soja tem grande impacto negativo na produção mundial e brasileira, conforme já comentamos em nosso blog.

Neste contexto, o controle da doença é de extrema importância. Entretanto, tem sido uma grande batalha a cada ano-safra, devido à sua alta capacidade de disseminação, uma vez que o fungo é facilmente disseminado pelo vento e pode ser carregado por longas distâncias. Além disso, a doença pode se desenvolver de forma explosiva, causando rápida desfolha nas plantas infectadas.

Somado à fácil disseminação, a lista de hospedeiros alternativos para o fungo é relativamente longa, o que dificulta seu controle.

Hospedeiros alternativos são outras plantas que podem ser, e permanecer, infectadas com o patógeno que causa a doença na cultura de interesse. Entretanto, não necessariamente o patógeno consegue completar seu ciclo de vida em plantas hospedeiras alternativas.

Tabela 1. Hospedeiros conhecidos da ferrugem-asiática da soja causada por Phakopsora pachyrhizi.

Fonte: USDA/American Phytopathogical Society.

 

Formas de controle da ferrugem-asiática

O manejo integrado é a resposta para o melhor controle da doença. O uso de fungicidas (controle químico) já é bem disseminado e eficaz. Além dele, os manejos culturais podem auxiliar no controle, incluindo o vazio sanitário.

Controle químico da ferrugem-asiática

O controle químico é o que possui a maior efetividade no controle da doença. Para a maximização da ação do fungicida, é essencial que ocorra um alinhamento adequado entre o uso do produto (seguindo as recomendações da bula) e o momento da aplicação. Além disso, as condições ambientais também devem ser levadas em consideração na aplicação do produto.

A fim de retardar a evolução da resistência, devem sempre ser aplicadas as Boas Práticas Agrícolas, como, por exemplo, a rotação de mecanismos de ação dos fungicidas.

Controle cultural

As práticas culturais vêm para somar às demais formas de controle. Qualquer prática que vise diminuir os impactos da doença, que podem ser enormes em um ano-safra, são bem-vindas e devem ser realizadas na fazenda.

Além de monitorar com afinco sua lavoura, respeitar o vazio sanitário auxilia no combate à doença.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento (MAPA), o vazio sanitário é "o período definido e contínuo em que não se pode manter plantas vivas de uma espécie vegetal em uma determinada área, com vistas à redução do inóculo de doenças ou população de uma determinada praga." 

A cada ano, o Ministério publica o período em que o vazio deve ocorrer nas cidades produtoras ao redor do Brasil. Tais datas são revisadas minuciosamente, de acordo com a ocorrência nas safras anteriores, para que o controle seja cada vez mais eficiente no combate à doença.

A Portaria nº 781 estabelece o período de vazio para a cultura da soja para os estados produtores em 2023.

Outros tratos culturais

Apesar do vazio sanitário ser a prática cultural mais importante para evitar a disseminação da doença, existem outras práticas que podem auxiliar o produtor a minimizar a ocorrência, ou ao menos os impactos da doença em sua lavoura.

A semeadura antecipada, aliada ao uso de cultivares precoces, pode resultar em aparecimento da doença em um momento da maturidade da planta, ocasionando menor impacto na produtividade, geralmente após R6.

Também pode ser realizado um atraso no período de semeadura, a fim de transpor o período reprodutivo para uma época mais seca do ano, diminuindo as condições favoráveis para a doença, cujo ambiente mais úmido a favorece.

A semeadura com maior espaçamento entrelinhas, associado a uma menor população de plantas, pode auxiliar em um dossel de microclima mais seco, reduzindo o período de orvalho das plantas, prevenindo, ou ao menos desacelerando, o desenvolvimento da doença.

Tal técnica pode, também, auxiliar na melhor penetração do fungicida no dossel, aumentando a possibilidade de controle químico da doença. Entretanto, existe a possibilidade de o dossel não suprimir adequadamente o desenvolvimento das plantas daninhas, em relação ao espaçamento usual. Assim, se as condições edafoclimáticas forem altamente favoráveis à ocorrência da doença, talvez seja um manejo não tão efetivo pensando no quadro geral (doenças e daninhas).

Por isso, o manejo integrado de doenças, que aborda a adoção de diversas práticas agrícolas, deve sempre ser utilizado, visando o mais efetivo controle da doença.

Referências

BRASIL. Portaria Nº 306, de 13 de Maio de 2021. 90-A. Ed. Diário Oficial da União, 14 de maio de 2021. Seção 1. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-306-de-13-de-maio-de-2021-320050346>. Acesso em: 9 de julho de 2023.