Mães do agro: a importância da força, da resiliência e do legado feminino no setor
A presença feminina no agronegócio não é exatamente uma novidade, mas, nas últimas décadas, cresceu bastante e ganhou novos contornos. A revolução agrícola, impulsionada pelo aperfeiçoamento de novas tecnologias, fez com que as mulheres conquistassem maior visibilidade, autonomia e espaço nas cadeias produtivas do setor nos últimos anos. Não à toa, no coração do Brasil rural, entre plantações, criações e longas jornadas de trabalho, a figura firme e inspiradora das mães que atuam no campo se destaca cada vez mais. Elas são líderes, produtoras, gestoras e guardiãs de saberes transmitidos de geração para geração.
Muitas lideram iniciativas sustentáveis, implementam tecnologias, modernizam as práticas agrícolas e fortalecem a economia local. Outras preservam conhecimentos tradicionais, transmitindo valores de cuidado com a terra, solidariedade e respeito à natureza. Elas são agentes de mudança.
São muitas as jornadas de mães no agronegócio que nos dão uma bela demonstração de força e resiliência. Kaline Stella Lorenzon é um exemplo. A hoje agrônoma de campo da Corteva já era mãe de Kaylaine quando decidiu seguir carreira no agro: “Iniciei minha trajetória no agro aos 21 anos, e minha filha, na época, tinha apenas 5. Sem rede de apoio, ela era minha companheira inseparável, inclusive nas salas de aula da faculdade. Crescemos juntas, cada uma descobrindo o seu mundo, mas sempre de mãos dadas”.
Já Julia Schaefér, Field Brand Leader da Brevant®️ Sementes, já trabalhava no campo quando engravidou de seu filho, Otto, que hoje tem 2 anos: “Minha gravidez não foi planejada e eu fiquei insegura de contar para a minha liderança que eu estava gestante. Para minha surpresa, meu chefe ficou muito feliz e me deu todo o apoio. O contexto do trabalho feminino não apenas no agro, mas em todos os setores, exige uma estrutura e uma cultura que compreendam esse cenário da maternidade. Eu tenho a sorte de trabalhar em uma empresa em que os temas familiares são tratados com muita seriedade. Existe, inclusive, uma licença-paternidade de quatro meses na companhia, o que proporciona um ambiente de equidade e valorização da família dentro da corporação. Isso me deu uma tranquilidade muito grande de passar por um momento em que inúmeras inseguranças surgem”.
Apesar de terem trajetórias muito distintas, Julia e Kaline destacam a distância física que o trabalho no campo demanda como um dos maiores desafios da maternidade para quem trabalha no agro. “A vida no campo me ensinou que as distâncias fazem parte da nossa rotina. Viajo muito a trabalho, e isso me exigiu um tipo de maternidade forte, madura e, acima de tudo, generosa. Ensinei minha filha a ser independente, não por escolha, mas por amor. Quis que ela soubesse se virar, que tivesse coragem, assim como tive que aprender”, conta a agrônoma da Corteva.
“É um trabalho que exige muita abdicação. Para sair de casa num domingo, sabendo que só vai voltar na sexta-feira, é necessário ter um propósito claro, ou você não consegue, a conta não fecha. Eu tenho um parceiro que assumiu um plano conjunto comigo, que me apoia e me ajuda a equilibrar os pratos quando estou na estrada. Eu sou muito feliz com o que faço, mas, fundamentalmente, é o meu propósito de dar à minha família uma condição melhor de vida que me faz seguir. É preciso ter força para lidar com o fato de que eu não estava em casa quando meu filho andou pela primeira vez”, reflete Julia.
A incumbência de trabalhar em um setor que alimenta o país, cultivando o futuro, faz com que os filhos das mães do agro aprendam desde cedo a importância do trabalho, da terra e da união familiar. “Pra mim, bate muito forte a questão de legado. Não somente no sentido do exemplo, mas também por conta do que eu estou, através do meu trabalho, deixando para o meu filho e para os filhos dele. A questão do meu trabalho ter um propósito, que não somente financeiro ou estratégico para a minha ascensão profissional, mas para o que nós estamos deixando para as gerações futuras, foi algo que virou a chave e tem um peso grande hoje”, diz a Field Brand Leader da Brevant®️ Sementes.
“Minha mãe foi mãe solo e criou a mim e os meus irmãos praticamente sozinha. Tinha pouco tempo, porque precisava trabalhar muito, mas sempre demonstrou muita coragem e dignidade. O exemplo dela me fez acreditar que eu também podia, e que ter minha independência era o caminho para construir um futuro melhor para minha filha. Esse desejo de dar a ela uma vida melhor e cheia de possibilidades é o que me move desde sempre. É o que me dá força para sair de casa todos os dias, com ou sem desafios. Porque eu sei que, no final, ela vai ter orgulho da mãe que tem e do trabalho que eu escolhi para mim”, diz Kaline.
A agrônoma divide com a filha cada conquista que alcança com seu trabalho: “Temos personalidades muito diferentes, ela não é fã de botina nem do campo, mas cada vez que eu supero um desafio ou alcanço um resultado importante, a primeira coisa que faço é contar para ela. Porque sei o quanto ela torce por mim, mesmo à distância. E essa troca, esse orgulho que compartilhamos, é também uma forma de estarmos sempre unidas”.
Ser mãe, inclusive, é algo que torna as mulheres mais fortes e corajosas, algo que se reflete no trabalho e na vida das profissionais de campo do agronegócio. “As mães têm uma fé que não é necessariamente religiosa. A gente tem uma intuição que faz com que simplesmente saibamos das coisas. Uma questão de sensibilidade e percepção que deixa as emoções muito mais afloradas. Profissionalmente, a leitura de cenários, a compreensão em relação às pessoas e ao clima dos ambientes se desenvolveram. Eu também fiquei muito mais forte e mais assertiva para lidar com diversas questões. Depois que me tornei mãe, tenho exemplos de atitudes e posturas que a Júlia não-mãe nunca teria e a Júlia mãe teve sem tremer porque meu filho se tornou prioridade”, revela a Field Brand Leader.
O trabalho em campo, no agro, também traz aprendizados para essas profissionais que são mães e influencia na maneira como elas educam os filhos e lidam com diferentes situações. “A natureza é muito forte, né? Nesse sentido, o universo em que trabalho me ajuda a ter certeza do que eu quero para o meu filho. Muitos pais querem que os filhos sejam bem-sucedidos, que sigam tal profissão, que sejam perfeitos, maravilhosos etc. O que eu desejo para o meu filho é que ele saiba respeitar a própria individualidade e seja feliz com as próprias escolhas. Quero ajudá-lo a prosperar no caminho em que ele for melhor”, explica Julia.
Lidar com milho, inclusive, a ajuda a fazer um paralelo com as pessoas: “Trabalho com sementes capazes de gerar 200 sacos por hectare, e esse é um número muito bom! Mas, se colocarmos essas sementes no lugar errado, elas não produzirão nem 100 sacos. Correlaciono essa sabedoria da natureza com as pessoas. Isso me torna capaz de respeitar e ser observadora das aptidões e habilidades do meu filho, e assim ajudá-lo a prosperar onde, de fato, a natureza dele é mais forte”.
“O dia a dia no campo me ensina diariamente sobre paciência, resiliência e o valor de cuidar. Isso tem tudo a ver com a maternidade. Assim como no agro cada etapa do cultivo exige dedicação, atenção e tempo, educar uma filha também é um processo contínuo, cheio de desafios e recompensas. O agro me mostra que os frutos mais valiosos vêm com esforço, e essa lição eu levo para dentro de casa. Ensino minha filha a ter compromisso, a respeitar os ciclos da vida e a valorizar o trabalho. Além disso, o campo me lembra que, mesmo quando as condições são difíceis, sempre há algo a aprender, e isso nos torna mais fortes. Ser mãe e ser agrônoma têm muito em comum. Nos dois papéis, a gente semeia amor, conhecimento e esperança no futuro”, finaliza Kaline.