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Qualidade de colmo no milho: compreendendo o quebramento e suas causas

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Híbridos adaptados à região e manejo preventivo são essenciais para minimizar quebras dos colmos e proteger a produtividade da sua lavoura

A qualidade de colmo no milho é um fator frequentemente negligenciado nas fases iniciais do manejo, mas se revela crítica no momento da colheita. O quebramento de plantas reduz a produtividade, dificulta a operação mecanizada e, muitas vezes, é reflexo de desequilíbrios invisíveis ao longo do ciclo: doenças de solo, estresses hídricos, enfezamentos, desequilíbrio nutricional e até fatores genéticos. Este texto aprofundará os principais fatores que comprometem a estrutura do colmo e trará orientações práticas para minimizar esse risco silencioso.

O que é qualidade de colmo?

A qualidade de colmo se refere à integridade física e fisiológica do caule do milho, responsável por sustentar a planta e conduzir água e nutrientes. Um colmo de boa qualidade é resistente ao acamamento e ao quebramento, mesmo sob condições adversas. Esse atributo resulta da interação entre genética, nutrição equilibrada, sanidade e manejo adequado ao longo do ciclo da cultura.

Quebramento de colmo: quando e por que ocorre?

O quebramento de colmo pode ocorrer em diferentes fases do desenvolvimento do milho, mas é mais comum no final do enchimento de grãos e próximo à colheita. Nessa fase, há remobilização de nutrientes do colmo, enfraquecendo sua estrutura. Essa fragilidade, combinada com ventos fortes ou excesso de chuva, aumenta o risco de quebramento. Além disso, doenças internas no colmo podem causar necroses imperceptíveis visualmente até que o dano se manifeste.

Principais causadores

a) Doenças de solo

Diversos patógenos de solo comprometem diretamente a qualidade do colmo no milho. Entre os principais, destacam-se:

- Fusarium spp.: é um dos principais grupos de fungos causadores da podridão do colmo no milho. Seu desenvolvimento é favorecido por estresse hídrico, altas temperaturas, solos compactados ou com baixa fertilidade, e pela presença de ferimentos provocados por insetos ou práticas de manejo inadequadas. O fungo compromete os vasos condutores, causando necrose (escurecimento e morte dos tecidos), ressecamento e perda de integridade estrutural. Sintomas visuais típicos incluem: colmo com aspecto seco e esbranquiçado ao corte longitudinal; escurecimento interno em forma de estrias ao longo dos vasos; presença de micélio rosado ou esbranquiçado no interior do colmo, principalmente em condições úmidas; diminuição do diâmetro do colmo e aparência mais fina em plantas afetadas; e facilidade de quebramento ao fazer o 'teste do aperto' com as mãos. Devido à progressão silenciosa da doença, muitas vezes os sintomas externos são discretos, e o problema só é identificado tardiamente, durante o acamamento ou quebramento das plantas.

Foto: Henrique Zanardo

- Macrophomina phaseolina: é o agente causal da podridão de colmo por carvão ou podridão cinzenta. Favorecida por altas temperaturas e déficit hídrico, especialmente em solos arenosos e com baixa matéria orgânica, essa doença compromete os tecidos internos do colmo, tornando-o oco e frágil. Visualmente, os colmos afetados apresentam aspecto rachado e seco, com presença de pontuações pretas (microscleródios) visíveis sob a epiderme, especialmente próximas à base. 

Foto: Henrique Zanardo

- Colletotrichum graminicola (Antracnose): essa doença é comum em regiões com clima quente e úmido, e pode afetar tanto as folhas quanto os colmos. No colmo, causa lesões escuras e afundadas, geralmente localizadas na base da planta, que se tornam frágeis e suscetíveis ao quebramento. Ao corte longitudinal, observa-se escurecimento dos tecidos centrais.

- Stenocarpella maydis (Diplodia): associada a alta umidade e presença de restos culturais infectados no solo, essa doença causa lesões marrom, quase negras, nas quais é possível observar a presença de pequenos pontinhos negros(piquinídeos). Os sintomas incluem colmo com tecido interno de coloração marrom, que se desintegram deixando apenas vasos lenhosos intactos. A infecção tende a subir do solo para o colmo, levando ao colapso estrutural e morte prematura da planta.

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Fotos: Leonardo Oliveira

Esses patógenos se aproveitam de estresses fisiológicos, ferimentos mecânicos ou danos causados por pragas para se instalar na planta. Frequentemente permanecem latentes no tecido até que as condições ambientais se tornem favoráveis à sua multiplicação. O manejo integrado deve incluir práticas como rotação de culturas, escolha de híbridos tolerantes, utilização de sementes de alta qualidade e tratamento industrial com fungicidas. Essas estratégias visam reduzir a pressão inicial de inóculo e proteger a planta desde a emergência.

b) Estresses abióticos: seca, densidade e acamamento

A escassez de água durante fases críticas, somada a altas densidades de plantio, pode resultar em colmos finos, alongados e frágeis. O acamamento precoce pode abrir caminho para infecções secundárias.

c) Enfezamentos: impacto indireto e estrutural

O complexo de enfezamentos é causado por molicutes transmitidos principalmente pela cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). O espiroplasma é responsável pelo enfezamento vermelho, enquanto o fitoplasma causa o enfezamento pálido. Essas doenças afetam o sistema vascular da planta, comprometendo o transporte de seiva e nutrientes, o que resulta em plantas mais fracas, com colmos finos e menor deposição de lignina. Os sintomas visuais incluem folhas com clorose generalizada, encurtamento de entrenós, atraso no florescimento, multiespigamentos e colmos com menor resistência mecânica e comprometimento do desenvolvimento radicular. A severidade do impacto depende da época de infecção: quanto mais precoce a infecção, maior o prejuízo ao crescimento e à estrutura da planta.

d) Nutrição desequilibrada: potássio, cálcio e relação N:K como pilares

A deficiência de potássio compromete a estrutura celular e a resistência mecânica do colmo. O cálcio, essencial à integridade das paredes celulares, também precisa estar presente em níveis adequados. Além disso, um desequilíbrio entre o fornecimento de nitrogênio (N) e potássio (K) pode favorecer o crescimento vegetativo excessivo em detrimento da robustez estrutural. Altos níveis de nitrogênio sem o adequado suprimento de potássio tornam o colmo mais suscetível ao acamamento e ao quebramento. O manejo nutricional deve ser cuidadosamente monitorado ao longo de todo o ciclo da cultura, garantindo uma relação equilibrada entre esses nutrientes.

e) Genética e arquitetura da planta

Híbridos com plantas muito altas, colmos finos ou menor acúmulo de lignina podem apresentar maior susceptibilidade ao quebramento. A escolha de materiais adaptados à região é essencial.

f) Colheitas tardias e baixa umidade de grãos

A postergação da colheita, especialmente quando os grãos atingem teores de umidade abaixo de 14%, compromete diretamente a integridade do colmo. O colmo tende a secar de forma excessiva, tornando-se mais rígido, quebradiço e suscetível à ação do vento e de patógenos oportunistas. Além disso, a permanência prolongada da planta no campo favorece o avanço de doenças como Fusarium spp. e Stenocarpella spp. (Diplodia), que se aproveitam do estado senescente dos tecidos e da menor capacidade de defesa da planta. O risco de perdas por quebramento aumenta consideravelmente, tornando essencial o monitoramento da maturidade fisiológica e o planejamento da colheita em janelas ideais para preservar a qualidade estrutural do colmo e maximizar os ganhos da lavoura.

Como monitorar e manejar o risco de quebramento de colmo

O quebramento de colmo pode ser prevenido com um conjunto de estratégias que se iniciam antes mesmo da semeadura e se estendem até a colheita. A escolha de sementes certificadas e de alta qualidade é o primeiro passo para garantir uma emergência uniforme e vigorosa, formando plantas com colmos mais bem estruturados. O uso de tratamento industrial com fungicidas, como a tecnologia LumiGEN®, protege as plântulas nos estágios iniciais contra patógenos de solo, fortalecendo o sistema radicular e favorecendo a formação de colmos mais resistentes. Durante o desenvolvimento da lavoura, o monitoramento constante é essencial para identificar precocemente sinais de doenças ou fatores que comprometam a estrutura do colmo. Aplicações antecipadas de fungicidas, alinhadas ao posicionamento agronômico de cada híbrido e ao histórico da área, promovendo a proteção dos tecidos e a manutenção da sanidade. Além disso, o escalonamento da colheita, aliado à observação da maturidade fisiológica, é crucial para evitar atrasos que intensifiquem a senescência e a fragilidade do colmo. O manejo integrado dessas práticas contribui para reduzir significativamente os riscos de quebramento e proteger o potencial produtivo da lavoura até a colheita.

Conclusão

Mais do que apenas uma estrutura de sustentação, o colmo é o reflexo da saúde da planta. Investir em práticas que garantam sua qualidade é essencial para assegurar produtividade, evitar perdas e proteger o potencial da lavoura até a última etapa do ciclo.

Referências

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- Assis, V.C.S.S. de, et al. Doses de nitrogênio, fósforo e potássio e sua interferência na qualidade e na produtividade do milho doce. Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, 23(1), 1-22. (https://www.researchgate.net/publication/387826983)

- EMBRAPA. Doenças do Milho. (https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/107246/1/Doencas-do-milho.pdf)

- Gomes, L.S., et al. Consequências do Atraso na Colheita Sobre o Desempenho Agronômico de Híbridos de Milho. Congresso Nacional de Milho e Sorgo. (https://www.abms.org.br/cnms2016_trabalhos/docs/989.pdf)

- Oliveira, E., et al. Sintomas e danos causados por enfezamentos em milho. Revista Cultivar Grandes Culturas. (https://revistacultivar.com.br/artigos/enfezamentos-do-milho-sintomas-e-controle)

- Pacheco, C.A.P., et al. Enfezamentos do milho: causas, sintomas e estratégias de manejo. Pesquisa Agropecuária Tropical, 44(4), 424–432. (https://www.scielo.br/j/pat/a/ctBmn8t5kZhVmvMk8HYvnyh/)

Costa, R. V.; Casela, C. R.; Cota, L. V. (2021). Podridões do colmo e das raízes. Agência Embrapa de Informação Tecnológica. Recuperado em 3 de junho de 2025, de https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/milho/producao/pragas-e-doencas/doencas/podridoes-do-colmo-e-das-raizes