Blog •  31/10/2022

Práticas de manejo e controle da ferrugem-asiática para a cultura da soja

Pedro Gonçalves, engenheiro agrônomo.  Revisado 19/03/2024
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Imagem de pustulas de ferrugem-asiática da soja.

Ferrugem-asiática da soja é uma doença causada por um fungo (Phakopsora pachyrhizi). O primeiro relato no Brasil ocorreu em 2001 e, desde então, a doença passou a estar presente no dia a dia do produtor e sua disseminação passou a ser acompanhada em todo o Brasil.

O sintoma inicial é a presença de pequenas lesões marrons ao longo de toda a folha da soja, que levam à desfolha e à precocidade. A desfolha, por si, é a causadora da perda de produtividade, afetando diretamente o processo fotossintético da planta. Na face inferior da folha são encontrados urédias, que se rompem e liberam os uredósporos.

Figura 1. Lesão causada pela ferrugem-asiática em uma folha de soja.

 Fonte: Aprosoja.

A liberação dos uredósporos é, geralmente, a causadora de epidemias, uma vez que são de fácil disseminação e capazes de sobreviver em mais de 90 outras espécies de leguminosas.

Vale ressaltar que em plantas não preferenciais a taxa de progresso da doença é menor. Portanto, se manter vigilante ao aparecimento dos primeiros sintomas é de fundamental importância para o sucesso do manejo. 

O desenvolvimento de fungo se dá, em condições ótimas, entre 20 e 23°C, mas o alcance máximo para o desenvolvimento fica na faixa entre 10 e 28°C, com a presença de umidade ou de água nas folhas (por chuva ou aplicação de produtos).

Impacto econômico

A ferrugem-asiática é capaz de diminuir a produção entre 10 e 90%, a depender do nível de severidade na área.

O custo com o controle da ferrugem-asiática no Brasil, ou custo ferrugem, é crescente. O controle da doença gera um custo médio de US$2 bilhões por Safra em defensivos, enquanto, nos últimos três anos, o custo médio passou para US$4,28 bilhões.

Na Safra 2003/04 o custo ferrugem ficou na casa dos US$2,08 bilhões, contabilizando perdas de 4,6 milhões de toneladas de grãos, tendo sido registrado uma infestação de 70% das áreas de produção no país na época.

Tabela 1. Custo ferrugem (perdas de grãos somadas ao custo de aplicação). Fonte: Consórcio Antiferrugem / Elaboração: Scot Consultoria.

A partir da Safra 2012/13 a presença da doença passou a ser monitorada, localizada e controlada. O custo com o controle, principalmente químico, cresceu, impactado por um cenário internacional de aumento nos custos de produção.

Veja na tabela 2 o impacto estimado no resultado financeiro do produtor com uma infestação leve (10%) da área.

Tabela 2. Impacto econômico em uma área de produção do Mato Grosso, com 10% da área com a doença, sendo a área atingida sem qualquer tipo de controle.Fonte: Conab, Embrapa, Scot Consultoria / Elaboração: Scot Consultoria.

Em meio a um cenário de custos elevados, como na Safra 2022/23, a manutenção da produtividade é um fator fundamental para a garantia de bons resultados.

Práticas de manejo e estudos de resistência

O manejo da doença deve começar na entressafra da cultura, com a dessecação da tiguera (plantas voluntárias que permanecem na área após a colheita). Também há a obrigatoriedade de adoção de vazio sanitário (período de 2 a 3 meses sem cultivo da cultura da soja na área), onde cada estado da federação segue seu próprio calendário.

A adoção de área para monitoramento do aparecimento dos primeiros sintomas regionais é uma prática bastante usual entre os produtores e a pesquisa. Normalmente é feita em ambiente controlado, em estações de pesquisa e fundações e, depois, registrada no MAPA e Consórcio Antiferrugem.  

Durante o desenvolvimento da cultura, o controle químico, de maior utilização na cultura da soja, com aplicações de fungicidas pode ser feito ao primeiro sinal dos sintomas típicos ou de forma preventiva (anteriormente ao surgimento da ferrugem). Sua aplicação é ligada diretamente ao monitoramento da doença na área.

Por fim, o emprego de cultivares que apresentam resistência ao fungo para evitar, ou mitigar, a perda de produtividade e, também, reduzir a quantidade de uredósporos na área é uma boa alternativa para incluir no manejo da doença.

É importante ressaltar que a ferrugem-asiática já possui resistência moderada para alguns fungicidas, além de boa habilidade de se sobressair em relação a alguns genes utilizados em cultivares resistentes.

Portanto, não existe uma única solução para o auxílio ao controle da doença, mas sim o emprego das diversas práticas de manejo.

Considerações finais

A ferrugem-asiática é a principal doença para a cultura da soja, com um impacto produtivo e econômico significativo.

Com o aumento no custo de produção e margens menores, o monitoramento da ferrugem-asiática é fundamental, sendo necessário o emprego de diversos métodos e estratégias que visem diminuir a disseminação do fungo, incluindo políticas públicas.

Referências

GODOY, Cláudia Vieira, et alAsian soybean rust in Brazil: past, present and future. Brasília: Embrapa, v.51, n.5, p.407-421, maio de 2016.

GODOY, Cláudia Vieira, et alEficiência de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja, Phakopsera pachyrhizi, na safra 2021/2022: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. Londrina: Embrapa, agosto de 2022.

GODOY, Cláudia Vieira, et al. Boas práticas para o enfrentamento da ferrugem-asiática da soja. Londrina: Embrapa, agosto de 2017.

CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM, Custo ferrugem, informações sobre a ocorrência da ferrugem-asiática e perdas pela doença nas safras de soja. Disponível em: <http://acacia.cnpso.embrapa.br:8080/cferrugem_files//764411951/Tabela_resumo_ferrugem_atual.pdf>. Acessado em 15/09/2022.

DA CRUZ, Thyane V, et al. Perdas causadas pela ferrugem-asiática em cultivares de soja semeadas em diferentes épocas, no Oeste da Bahia. Tropical Plant Pathology, v.37, n.4, p.155-165, 2012.

RICHETTI, Alceu, et al. Viabilidade econômica da cultura da soja para a safra 2021/2022, em Mato Grosso do Sul. Dourados, MS, Agosto, 2021.