Blog •  25/07/2023

Sorgo: boa opção produtiva à Safrinha em meio ao desafio de estresse hídrico

Pedro Gonçalves, engenheiro agrônomo 
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lavoura de sorgo

Bem adaptado às condições produtivas tropicais, a participação do sorgo tem aumentado na produção brasileira de grãos.

O sorgo é um dos principais grãos produzidos no mundo, com produção estimada em 62,1 milhões de toneladas. Estados Unidos, Nigéria e Sudão são os principais produtores da cultura (USDA).

No Brasil, sétimo maior produtor mundial, a região Centro-Oeste se destaca como a principal região produtora, com estimativas de área semeada e produção de 592,0 mil hectares e 2,0 milhões de toneladas, respectivamente. A região é responsável por 47,3% das 4,3 milhões de toneladas estimadas para 2022/23 em todo o Brasil (Conab).

Goiás e Minas Gerais são os maiores produtores nacionais, com produções estimadas em 1,3 e 1,1 milhão de toneladas.

Figura 1 Produção, em milhões de toneladas (eixo da esquerda), e área (eixo da direita), em milhões de hectares, do sorgo no Brasil.

Fonte: Conab/Elaborado por Scot Consultoria

Bastante difundida no continente africano e adaptada para ambientes de produção tropicais, a cultura do sorgo é mais tolerante ao estresse hídrico se comparada a outros grãos.

Em períodos de estiagem prolongada, o sorgo granífero costuma ter maior eficiência na produção de grãos, quando comparado ao milho, por exemplo.

Devido a essa característica, sua utilização é predominante na chamada Safrinha, quando as chuvas costumam ser mais escassas para a região central.

Qual o impacto do estresse hídrico no sorgo?

Em média, a depender do momento em que é atingido pela indisponibilidade hídrica, o sorgo pode ter mais de 50% da sua produtividade impactada (Embrapa, 2019). Também pertencente à família Poaceae, o milho pode ver impactos negativos superiores a 66%, também a depender do momento (SILVA et al., 2021).

No momento atual, com precificações abaixo do trabalhado em momentos anteriores, trazendo margens apertadas para o produtor de grãos, o ideal é permanecer atento quanto ao déficit hídrico da área.

É possível estimar uma possível perda econômica para ambas as culturas, levando em consideração as perdas máximas encontradas por Silva et al., 2021.

Na primeira quinzena de junho, as cotações da saca de 60kg do sorgo e do milho estavam em R$ 51,40 e R$ 53,80, na mesma ordem, em São Paulo.

A produtividade média brasileira do milho é de 94,6 sc/ha, enquanto a do sorgo é de 52,6 sc/ha.

Seria possível obter uma receita líquida, com safra cheia, de R$ 5.089,48/ha com o milho e de R$ 2.703,64/ha com o sorgo.

Em caso de quebra de safra, a redução da receita do produtor de sorgo seria de R$ 1.351,82/ha e a do produtor de milho de R$ 3.359,06/ha.

Mas afinal, o que dá ao sorgo essa maior “rusticidade”?

O sorgo tem maior capacidade de tolerar ambientes com baixa disponibilidade hídrica, pois seu sistema radicular é profundo e bem estruturado, além das folhas serem adaptadas à redução da transpiração por meio do fechamento dos estômatos (estrutura da folha que regula a troca gasosa dos vegetais) e da capacidade de redução metabólica das plantas sob estresse (BATISTA, 2018).

Sua exigência hídrica permeia entre 300 mm e 600 mm de água por ciclo produtivo, com temperatura adequada produtiva entre 20°C e 30°C (SANTOS, 2017), o que explica a sua presença em ambientes produtivos de Cerrado e, também, em boa parte do território brasileiro.

Além dessa boa tolerância ao estresse hídrico, o desenvolvimento de cultivares adaptadas às diversas condições ambientais facilita a sua difusão, garantindo a boa produtividade.

Posso semear o sorgo a qualquer momento?

Melhor adaptabilidade à restrição hídrica não significa que é possível deixar os manejos essenciais de lado.

Mesmo com sua boa capacidade de tolerar ambientes com baixa disponibilidade de água, o desenvolvimento do dossel de sorgo pode ser bastante impactado em alguns momentos específicos de seu desenvolvimento, devido ao desequilíbrio hídrico.

Dessa forma, atentar-se à janela de semeadura, garantindo que o final do período chuvoso se enquadre no início da semeadura do grão, é fundamental. Veja, na figura 2, a janela de produção de sorgo no Brasil, de acordo com a Conab.

Figura 2 Janela de semeadura do sorgo granífero no Brasil.

 

Legenda – verde: semeadura; amarelo: transição; laranja: colheita.
Fonte: Conab/Elaborado por Scot Consultoria

Outra forma de mitigar essa possibilidade de perdas produtivas, em função do estresse hídrico, é por meio do emprego de materiais de boa qualidade e com capacidade de tolerar essas situações sem perdas produtivas, como os híbridos de sorgo da Brevant® Sementes, B1G211 e 1G100, mais tolerantes à seca, com boa sanidade e potencial produtivo.

Dessa forma, cabe ao produtor, adequar a escolha do híbrido produtivo à região, além de realizar as práticas culturais dentro do período adequado na janela de produção, para garantir o equilíbrio hídrico para que o potencial produtivo seja expresso.

Referências

BATISTA, P. S. C. Tolerância ao estresse hídrico em sorgo granífero. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal) – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2018.

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

MENEZES, C. B. et al. Cultivares de sorgo tolerantes ao estresse hídrico em pós-florescimento. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 185, Sete Lagoas, Embrapa Milho e Sorgo, 2019.

SANTOS, C. V., MENEZES, C. B. Índices de seca para seleção de genótipos de sorgo granífero tolerantes ao déficit hídrico. Seminário de Iniciação Científica PIBIC/CNPq, 12., Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2017.

SILVA, S. et al. Parâmetros produtivos do milho sob déficit hídrico em diferentes fases fenológicas no semiárido brasileiro. Irriga, Botucatu, Edição Especial – Nordeste, v. 1, n. 1, p. 30-41, maio 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.15809/irriga.2021v1n1p30-41 . Acesso em: jun. 2023.

TARDIN, F. D. et al. Avaliação agronômica de híbridos de sorgo granífero Cultivados sob irrigação e estresse hídrico. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v. 12, n. 2, p. 102-117, 2013.

USDA