Blog •  01/08/2023

Impactos de milho tiguera e como o controlar de maneira efetiva

Marília Ferreria, Agrônoma de Campo 
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Milho tiguera em lavoura de soja no estado de Goiás. Foto: Marília Ferreira. Milho tiguera em lavoura de soja no estado de Goiás. Foto: Marília Ferreira. 

O milho tiguera ou voluntário corresponde a uma planta que emerge espontaneamente e precisa ser controlada. Confira as dicas e saiba como.

A agricultura brasileira amplamente emprega a sucessão de cultivo de soja/milho safrinha (ou segunda safra). Assim, o milho tiguera ou voluntário corresponde a uma planta que emerge espontaneamente e precisa ser controlada. Esse cuidado deve ocorrer tanto no período de entressafra, entre a colheita do milho e a semeadura da soja, quanto dentro do ciclo da soja.

Impactos de milho tiguera na produtividade da soja

Para a cultura da soja, a presença de plantas de milho tiguera impacta na produtividade. Isso ocorre porque as plantas voluntárias apresentam elevada capacidade competitiva por água e nutrientes. A fundação ABC estima que, a cada 1 planta/m² de milho tiguera na soja, há uma redução 29,8% de produtividade da cultura.

Um dos grandes problemas das plantas voluntárias é que elas servem de “ponte verde” para o milho safrinha, atraindo assim pragas e insetos como a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), que é o principal vetor dos enfezamentos pálidos e vermelhos. Nos últimos anos, a incidência de enfezamentos e do inseto-vetor tem aumentado, causando grandes impactos para a produção de milho safrinha. Esse aumento é decorrente da intensificação do cultivo de milho e da ocorrência de ponte verde, uma vez que o milho é o único hospedeiro para esses agentes.

Presença de cigarrinha em milho tiguera no estado de Goiás. Foto: Marília Ferreira.

Complexo de enfezamento e seus impactos

Os enfezamentos são doenças causadas por microrganismos conhecidos como molicutes (classe Mollicutes, reino bactéria), que são um espiroplasma (Spiroplasma kunkelii) e um fitoplasma (Maize bushy stunt). A cigarrinha transmite também o maize rayado fino virus (MRFV), causador da “virose da risca”, ou simplesmente “risca”. As cigarrinhas adquirem o espiroplasma e/ou fitoplasma ao se alimentarem da seiva presente no floema de plantas de milho doentes. Após um período de latência, os insetos passam a transmitir os patógenos para outras plantas de milho cada vez que se alimentam da seiva de plântulas sadias.

O complexo de enfezamento afeta o desenvolvimento das plantas, causando sintomas como folhas amareladas e/ou avermelhadas, estrias cloróticas nas folhas, perfilhamento, multiespigamento, encurtamento dos entrenós, chupeta, redução do porte das plantas, proliferação de espigas, espigas com menor desenvolvimento ou deformadas, grãos chochos, problemas de colmo, acamamento e morte prematura de plantas. Por fim, as perdas de produtividade podem chegar a até 100% em plantas doentes (Embrapa). Os danos variam de acordo com a quantidade de plantas atacadas e a severidade dos sintomas expressados pelas plantas na área. O manejo é baseado em boas práticas consorciadas.

O controle de plantas de milho tiguera em soja é um dos pilares do manejo integrado de cigarrinha, já que, em apenas 50 dias, uma planta de milho infectada pode multiplicar mais de 57 cigarrinhas (Fundação ABC), com potencial de danos na Safrinha, além de contribuir para o aumento dos problemas com enfezamentos, gerar matocompetição reduzindo a produtividade da soja, servir de fonte de transmissão de doenças e alimento para pragas. O milho tiguera aumenta ainda a pressão de seleção para lepidópteros para as tecnologias Bts, tornando o manejo de suma importância.

Estratégias para redução de plantas de milho tiguera

O primeiro passo para a redução de plantas de milho tiguera é a realização de uma colheita eficiente, com o menor percentual possível de perdas de grãos. Dentre os cuidados na colheita, destacam-se a uniformidade da lavoura, a umidade dos grãos e a habilidade do operador. Outro ponto fundamental é o controle químico, em pré e pós-emergência da cultura da soja, uma vez que a emergência de plantas de milho voluntárias ocorre em vários fluxos, ou seja, em intervalos de tempo diferentes, tornando as ferramentas químicas fundamentais. 

Quando se fala em controle químico, é importante atentar ao fato de que a maioria das cultivares de soja e híbridos de milho são resistentes ao herbicida glifosato. Dessa forma, o manejo consiste em realizar o controle em pós-emergência de milho tolerante ao glifosato na cultura da soja com a mesma tecnologia, utilizando herbicidas/graminicidas inibidores do sítio de ação ACCase. Eles são herbicidas inibidores da síntese de ácidos graxos, que atuam paralisando o crescimento e desenvolvimento celular. A efetividade do controle químico é maior quando a planta voluntária se encontra em fase inicial de desenvolvimento, tornando necessária, dependendo do nível de infestação, mais de uma intervenção química.

Escrito por Marília Ferreria, Agrônoma de Campo da Brevant® Sementes.