Blog •  12/07/2022

Cigarrinha-do-milho – principais aspectos para identificação e cuidados necessários

Escrito por Rodolfo Silber, Engenheiro agrônomo, me
Something went wrong. Please try again later...
Imagem representando um vetor do enfezamento do milho para identificação dos produtores.

Cuidados que reduzem a presença de enfezamento do milho

Para atender à crescente demanda de milho, práticas agrícolas que permitam o incremento na produção podem favorecer o aparecimento de pragas e doenças.

É o caso do cultivo de duas ou mais safras de milho, que permite lavouras em diferentes idades e sobreposição do ciclo das plantas, a beneficiarem a multiplicação e migração de pragas em lavouras adultas para lavouras no início do desenvolvimento.

Além do sistema de produção, plantas provenientes dos grãos remanescentes da colheita anterior, conhecidas por milho tiguera, também podem abrigar pragas e patógenos, servindo de ponte verde para novas plântulas.

Como ocorre o enfezamento do milho?

A transmissão ocorre por meio da infecção pela cigarrinha-do-milho, que é infectada por patógenos após se alimentar da seiva de uma planta de milho doente, tornando-se transmissora.

Geralmente a infecção ocorre das plantas mais velhas para as mais jovens, com a sobreposição do ciclo das lavouras e plantas remanescentes contribuindo para a proliferação.

Os danos causados pelo enfezamento na planta infectada podem reduzir totalmente sua produção e, quanto mais cedo a plântula de milho for infectada, maior é a redução na produtividade.

Nas lavouras, os danos são diretamente proporcionais à quantidade de plantas infectadas e à severidade dos sintomas.

Conhecendo a cigarrinha

A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é considerada uma das pragas mais perigosas da cultura, sendo o milho o único hospedeiro conhecido no Brasil.

Seu tamanho varia de 3,7 a 4,3 mm e possui coloração amarela pálida, com dois pontos negros na parte anterior da cabeça.

As colônias são formadas por adultos e ninfas no cartucho e em folhas jovens, onde a cigarrinha pode adquirir os patógenos ou transmitir para outras plantas.

Sob condições ideais de temperatura, podem ocorrer várias gerações de cigarrinhas durante o ciclo do milho, aumentando a população e favorecendo a disseminação dos patógenos.

A cigarrinha é vetor dos patógenos Mollicutes espiroplasma e fitoplasma, causadores do enfezamento pálido e enfezamento vermelho na cultura do milho. Vide figura 1.

Figura 1. Sintomas de enfezamento pálido (esquerda) e vermelho (direita).
Sintomas de enfezamento pálido (esquerda) e vermelho (direita).
Fonte: Embrapa (2021)

Além dos Mollicutes, a cigarrinha também é vetor do vírus da risca do milho (Maize rayado fino virus, MRFV), que pode se associar aos enfezamentos em uma mesma planta, formando o complexo do enfezamento.

Identificando os sintomas

Os sintomas variam de acordo com o clima, suscetibilidade e estádio de infecção da planta. Quando a planta é infectada nos primeiros dias após a germinação, os sintomas são mais drásticos.

Apesar de serem doenças causadas por patógenos diferentes, a distinção entre elas é difícil, podendo ocorrer simultaneamente na mesma planta.

No enfezamento pálido, a doença é causada pela bactéria Spiroplasma kunkelii, que é pertencente à classe Mollicutes. O patógeno coloniza o floema do milho, provocando sintomas como estrias cloróticas esbranquiçadas nas folhas, encurtamento do entrenó, proliferação e má formação das espigas.

No enfezamento vermelho, os sintomas se assemelham ao enfezamento pálido, diferenciando-se por apresentar avermelhamento foliar em oposição às estrias cloróticas nas folhas.

Além dos sintomas já citados, no complexo de enfezamento pode ocorrer o perfilhamento, encurtamento dos entrenós, redução do porte das plantas, proliferação de espigas, espigas com menor desenvolvimento ou deformadas, grãos chochos, acamamento e morte prematura das plantas.

Os sintomas são mais acentuados após o florescimento em decorrência do enchimento dos grãos, mas a infecção pode ocorrer nos estádios iniciais do desenvolvimento da planta.

Manejo dos enfezamentos e da cigarrinha-do-milho

Devido à disseminação por meio de um inseto-vetor, não há como determinar o nível de dano econômico, pois depende da quantidade de cigarrinhas infectadas com Mollicutes.

O controle se baseia na presença ou ausência da cigarrinha, sendo a prevenção a forma mais recomendada, com o intuito de reduzir a população de cigarrinhas em plantas de milho remanescentes.

Foram listadas algumas medidas com o intuito de reduzir a população de cigarrinhas, multiplicação dos Mollicutes e diminuir o risco de incidência de enfezamento, confira:

  • eliminar com antecedência as plantas de milho tiguera na área de cultivo e ao redor;
  • não semear o milho próximo a lavouras adultas e com sintomas de enfezamento ou vírus da risca;
  • determinar uma janela de semeadura de 20 a 30 dias na região, evitando lavouras de idades diferentes;
  • utilizar híbridos de milho que tenham tolerância ou resistência genética aos enfezamentos;
  • fazer uso de sementes tratadas com inseticida, favorecendo o controle de cigarrinhas até o estabelecimento da lavoura;
  • monitorar a população de cigarrinhas e fazer uso de inseticidas químicos ou biológicos;
  • regular a colhedora para que não haja grãos, espigas ou fileiras remanescentes na área;
  • tomar cuidado para não dispersar grãos na estrada com o transporte;
  • realizar rotação de culturas.

Conclusão

Os enfezamentos no milho transmitidos pela cigarrinha têm sido um desafio nos últimos anos, reduzindo a produção e o retorno econômico das lavouras atingidas.

A melhor maneira para controle é eliminar com antecedência as plantas de milho infectadas da área de cultivo e na região, além de fazer o uso de híbridos tolerantes ou resistentes e tratar as sementes com inseticidas antes da semeadura.

Rodolfo Silber, Engenheiro agrônomo, me.

Scot Consultoria

Referências

EMBRAPA.

SILVEIRA, Camila Haddad. Eficácia de inseticidas no controle de Dalbulus maidis e da transmissão de espiroplasma do milho, 2019. Universidade de São Paulo, Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA).

VILANOVA, Euclides de Sousa. Efeito do estádio de desenvolvimento da planta e densidade populacional do inseto vetor, Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) (Hemiptera: cicadellidae), sobre a transmissão e danos do fitoplasma do milho. Teses USP, Piracicaba, 2021. Universidade de São Paulo, Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA).