Blog •  02/08/2022

Soja, milho e fertilizantes: relação de troca e expectativas

Felipe Fabbri, zootecnista, me. 
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Lavoura de milho em fase de desenvolvimento.

Puxado pela ascensão da demanda interna e pelo aquecimento do mercado de commodities agrícolas, a entrega de fertilizantes ao mercado brasileiro atingiu cerca de 45,9 milhões de toneladas em 2021, maior volume já registrado na história do país (figura 1).

Figura 1. Entrega anual de fertilizantes ao mercado no Brasil, em milhões de toneladas.

Entrega anual de fertilizantes ao mercado no Brasil, em milhões de toneladas.
Fonte: ANDA / Elaboração: Scot Consultoria

Em 2021, as culturas da soja e do milho consumiram aproximadamente 61% do total de fertilizantes entregues no Brasil e, para 2022, a expectativa é que o consumo atinja 65%, com cerca de 17 milhões de toneladas destinadas à área de soja e 7 milhões à área de milho (Globalfert, 2021).

O Brasil importa cerca de 85% do seu consumo de fertilizantes, sendo a Rússia um dos maiores fornecedores, fato que, desde março de 2022, em função da guerra russo-ucraniana, preocupa o fornecimento do insumo ao mercado brasileiro.

Antes do conflito, os preços do insumo já trabalhavam firmes, puxados pela pandemia da Covid-19, que limitava sua oferta em meio a um cenário de restrição de atividades nas unidades fabris.

Com a retomada das atividades econômicas, a demanda por transporte marítimo aumentou. Isso elevou, no mínimo em dez vezes, os preços do frete marítimo em dólares (figura 2). 

Figura 2. Preço do frete marítimo, em dólares, por contêiner de aço de 20 pés, com capacidade máxima de 22 toneladas, até 17/6/2022.

Fonte: FBX

Nesse contexto, as cotações dos fertilizantes subiram no mundo, o que não foi diferente no Brasil. Ainda, a depreciação de nossa moeda em relação ao dólar praticamente dobrou os preços dos principais fertilizantes em reais.

Preços e relação de troca

A adubação é o principal componente do custo de produção de uma lavoura de soja no Brasil. A participação dos fertilizantes no custo total de produção de soja aumentou 12,5 pontos percentuais, saindo de 25,4% em 2011 para 37,9% em 2021. Confira na figura 3.

Figura 3. Participação dos fertilizantes no custo total de produção de soja, em Sorriso-MT.

Participação dos fertilizantes no custo total de produção de soja, em Sorriso-MT.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria

Naturalmente, por se tratar de um dos principais componentes do custo de produção, um efetivo e antecipado planejamento para a aquisição do insumo é fundamental.

Uma métrica que pode ser utilizada para analisar oportunidades de compra simples, eficaz e democrática, que atende a qualquer tipo de produtor, é a relação de troca, devido à quantidade de sacas da commodity necessárias para adquirir uma tonelada do insumo.

Nas figuras 4 e 5, é possível observar o histórico da relação de troca entre milho e soja, em sacas do produto por tonelada de fertilizante. Na linha vermelha, apresentamos a relação média desde 2011 e, em azul, o comportamento nos últimos três anos.

Figura 4. Relação de troca entre milho e diferentes fertilizantes.

Relação de troca entre milho e diferentes fertilizantes. Ureia.

Relação de troca entre milho e diferentes fertilizantes. Cloreto de Potássio.

Relação de troca entre milho e diferentes fertilizantes. Superfosfato simples.

Fonte: Scot Consultoria

Figura 5. Relação de troca entre soja e diferentes fertilizantes.

Relação de troca entre soja e diferentes fertilizantes. Cloreto de potássio.

Relação de troca entre soja e diferentes fertilizantes. MAP.

Relação de troca entre soja e diferentes fertilizantes. Superfosfato simples..

Fonte: Scot Consultoria

A partir dessas informações, podemos avaliar a relação por meio de dois aspectos: relação histórica e comportamentos em curto prazo.

Desde o início de 2021, as relações estão bem superiores à média histórica (linha vermelha), ou seja, há um contexto de piora no poder de compra do produtor.

Hoje, comparar as relações dentro de seus pares, ou seja, momentos acima da média histórica, torna-se uma boa opção ao produtor que, em momentos de custos elevados, deve aproveitar toda oportunidade de curto prazo.

Para manter os bons resultados da produção agropecuária, deve-se aproveitar as relações de troca decrescentes na comparação mensal e, principalmente, momentos em que a relação está mais próxima à sua média histórica ou abaixo dela, conciliando a estratégia de armazenamento.

No entanto, a relação de troca é apenas uma ferramenta disponível ao produtor: associá-la a outras estratégias é fundamental. No caso dos fertilizantes, atenção ao dólar e fatores de impacto no preço do insumo, o preço da commodity no momento da negociação e a realização de parceria com produtores e fornecedores locais, que pode aumentar o poder de negociação.

Olhar para a relação de troca e consorciá-la com diferentes estratégias em momentos de turbulência, como o vigente, passou a ser imprescindível.

Referências

Associação Nacional para Difusão de Adubos
Companhia Nacional do Abastecimento
Freightos Baltic Index
Globalfert
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Scot Consultoria

Felipe de Lima Junqueira Franco Fabbri, zootecnista, me.
Scot Consultoria