Blog •  02/10/2023

Doenças da cultura da soja: caracterização, sintomatologia e manejo

Lauricio R. Moraes e Joyce Goulart  
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doença na cultura da soja

Uma boa colheita exige planejamento e prevenção. Confira todas as estratégias para lidar com as doenças da cultura da soja.

A produção agrícola brasileira está pautada pelo desenvolvimento da cultura da soja, que se tornou a mais expressiva e competitiva do mundo. Além disso, a busca incessante por novos patamares de produtividade – o que o mercado espera – aliada ao manejo do solo e tratos culturais e fitossanitários, garantem a rentabilidade anual do produtor de soja.

Desafios do manejo na cultura da soja

Antes de tudo, é importante entender que os variados ambientes e sistemas de produção aumentam os desafios do manejo. Por isso, os patógenos, durante todo o ciclo, podem encontrar no hospedeiro as condições ideais para infecção, colonização e esporulação, resultando nos sintomas e sinais da doença. A maioria dos fungos são classificados como patógenos necrotróficos, ou seja, habitantes do solo e restos culturais, suas estruturas de resistência se rompem segundo condições ambientais favoráveis. Os patógenos obrigatórios, como a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi)  e o oídio da soja (Erysiphe difusa), são classificados como biotróficos, ou seja, precisam da planta viva para completar seu ciclo.    

Doenças de início de ciclo

As doenças de início de ciclo causam redução da área foliar e trazem prejuízo à sojicultura brasileira. A septoriose (Septoria glycines) ataca principalmente o baixeiro da cultura, causando abscisão foliar da estrutura unifoliada. Anos de pouca chuva e a ausência de palhada contribuem para o aparecimento dos primeiros sintomas. Dados recentes indicam que essas estruturas foliares presentes na planta reduzem a massa de mil grãos do terço inferior das plantas.

Foto 1: Mancha-parda em soja – Septoria glycines (Laurício Moraes – Agronomia Seeds - Brevant Sementes)

Doenças de desenvolvimento latente

Outras doenças, denominadas manchas foliares, atacam a cultura desde o início. No entanto, ficam em período de latência na planta e não manifestam a sintomatologia das lesões. A planta produz substâncias e mecanismos de defesa com o objetivo de prolongar o aparecimento dos sintomas. A cercospora é a mais comum. Em muitos casos, há interação entre Cercospora sp. e mancha-alvo (Corynespora cassiicola), que juntas causam alta desfolha precoce em cultivares sensíveis, com prejuízos de até 30% na produção de grãos. 

Foto 2: Cercospora versus mancha-alvo – Cercospora versus Corynespora (Laurício Moraes – Agronomia Seeds - Brevant Sementes)

Foto 3: Cercospora – Cercospora (Laurício Moraes – Agronomia Seeds - Brevant Sementes)

Foto 4: Mancha-alvo – Corynespora (Laurício Moraes – Agronomia Seeds - Brevant Sementes)

Doenças de final de ciclo

As doenças de final de ciclo (DFCs) têm os primeiros sintomas na fase vegetativa e alguns compostos produzidos pela planta impedem o avanço da doença. Entretanto, é comum que os sintomas apareçam após a fase final do enchimento e início da maturação fisiológica dos grãos. Os sintomas são manchas arredondadas e pontuações que se estendem e produzem a cercosporina, substância de coloração avermelhada que evidencia a presença do patógeno.

Para identificação correta dos patógenos presentes nas lesões, faz-se necessário isolamento, pois é comum a interação de mais de um fungo atacando a planta. 

Foto 5: Mancha-púrpura – C. Kikuchi (Laurício Moraes – Agronomia Seeds - Brevant Sementes)

A ferrugem-asiática da soja (FAS) é a doença mais devastadora da cultura. Nas últimas safras, a região central do Brasil sofreu epidemias devido à alta umidade e presença em algumas regiões com plantio mais tarde. Vale ressaltar que as boas práticas de manejo de pragas ganham importância, mas, especificamente na FAS, os cuidados são extremamente importantes, pelo risco de resistência aos principais grupos fúngicos existentes.

Após a incidência da doença e boas condições para disseminação, a taxa de progresso vai de 1 a 75% em apenas 20 dias de exposição. Todo cuidado é pouco! Para este ciclo, os modelos matemáticos indicam muita chuva na Região Sul do Brasil e mais esparsas no Brasil Central. Além disso, há evidências da presença do fungo em plantas “tigueras” ou plantas “guaxa” de soja em grande quantidade, indicando a possibilidade de epidemia de ferrugem para esta safra em algumas regiões produtoras. As lesões se iniciam com pontuações esverdeadas e com fundo negro com altíssima taxa de progresso. Para cada lesão identificada, há possibilidade de mais três a quatro lesões virtuais, o que indica que o fungo completou seu ciclo ao menos duas vezes na folha da soja.

Foto 6: Ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi)     – (Laurício Moraes – Agronomia Seeds - Brevant Sementes)

Mofo-branco e a cultura da soja

O mofo-branco da soja (Sclerotinia esclerotiorum) em regiões de terras altas e nas áreas com plantio em sucessão soja ou feijão tem elevada importância como sendo uma das principais doenças de leguminosas. Os danos são irreversíveis e as medidas de controle preventivo são as melhores estratégias. O fungo permanece por muitos anos em suas estruturas de resistência, chamadas de “escleródios”, podendo chegar de 7 a 10 anos.

À medida que a cultura atinge a fase reprodutiva, inicia-se a germinação, que ocorre de duas maneiras. Primeiro, a carpogênica, quando, em contato com a umidade, as estruturas de resistência se rompem, ocorrendo a germinação. Cada escleródio é capaz de emitir até 5 apotécios, que ejetam os esporos do fungo até as estruturas reprodutivas das plantas. Outra germinação que ocorre é a miceliogênica, quando outras partes da planta são atacadas formando os micélios do fungo, que posteriormente formarão novo escleródio. O fungo é monocíclico e tem alto poder destrutivo nas culturas que lhe são suscetíveis.

As medidas de controle efetivas são escassas, mas boa margem de segurança, plantas de cobertura com boa relação C/N, rotação de culturas e aplicação de fungicidas específicos são as melhores estratégias.

Foto 7: Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)       – (Jaqueline Trombetta – Agronomia Produto Corteva Agriscience)

Outras doenças com elevada importância

A antracnose, causada pelo fungo (Colletotrichum sp), o míldio da soja (Peronospora manshurica) e o oídio (Erysiphe difusa) são doenças que nas últimas safras evidenciaram a falta de bom manejo da cultura e trouxeram perdas consideráveis para a produção de soja.

Estratégias de manejo da cultura da soja

A pesquisa e os órgãos oficiais (Embrapa Soja e FRAC) fomentam o manejo das doenças da soja com aplicações a partir do estágio fenológico vegetativo, observando o ciclo da cultura e o clima. Entretanto, o manejo passa também pela escolha de fungicidas registrados para a cultura com elevada eficácia e boa tecnologia de aplicação. O uso dos fungicidas multissítios e protetores é primordial para resguardar a longevidade dos grupos químicos existentes, pois não há para os próximos anos previsão de lançamentos de novos grupos químicos. 

Pontos de maior atenção:

  • Plantio no cedo, obedecendo o vazio sanitário regional.

  • Plantio de cultivares precoces e com tolerância às principais doenças.

  • Densidade de plantas recomendada pelos detentores.

  • Hábito de crescimento evita a epidemia de antracnose, conforme amplamente divulgado.

  • Aplicações a partir do V4 (20 a 25 DAE).

  • Boa tecnologia de aplicação (umidade, temperatura e vazão).

Para o manejo das doenças, todas as estratégias preventivas ganham importância. Plantio em latitudes diversas e regiões com calendário antecipado amplificam a possibilidade de as doenças se adaptarem e causarem danos. Por fim, sabemos que uma boa safra se inicia com planejamento do manejo das doenças e expectativa de obter excelentes rendimentos.

 

Escrito por Lauricio R. Moraes e Joyce Goulart

Agrônomos de Campo da Brevant® Sementes.