Clima na Safrinha: estresses térmico e hídrico na cultura do milho
Saiba como o clima na Safrinha pode afetar a produtividade através dos estresses térmico e hídrico durante o cultivo do milho.
Saiba como o clima na Safrinha pode afetar a produtividade através dos estresses térmico e hídrico durante o cultivo do milho.
Escrito por Marcelo Strefling, agrônomo de campo Brevant® Sementes.
Altas temperaturas e chuvas reduzidas no cultivo de milho: como o clima desfavorável na Safrinha pode afetar a produtividade?
Em grande parte do Paraná e Mato Grosso do Sul, a Safrinha do milho passou por um período de temperaturas extremamente altas associadas ao déficit hídrico. Desse modo, surgem vários questionamentos em relação às possíveis perdas de produtividade devido a esses fatores climáticos. E não há uma resposta simples, pois tudo depende do estádio fenológico em que o estresse aconteceu, e sua intensidade. A temperatura máxima ideal para o desenvolvimento da cultura é de 30 ºC, temperaturas acima disso já causam perdas na produtividade. Tivemos vários dias com temperaturas acima do limite máximo, atingindo mais de 40 ºC em alguns lugares.
Os estágios de desenvolvimento mais críticos para a cultura do milho são as fases de pré-pendoamento e polinização. Qualquer estresse nesse período pode reduzir a quantidade de grãos por espiga, impactando negativamente na produção da lavoura. Os problemas nessa fase podem ser divididos em dois principais: inibição da polinização ou redução da fotossíntese líquida. Ambos os mecanismos podem reduzir o número de grãos por espiga. Se o estresse acontecer na fase de enchimento de grãos, as perdas acontecerão na diminuição do peso da massa de grãos. Outro ponto importante é a qualidade do colmo, pois, se afetada pela perda de folhas, pode aumentar a mobilização de assimilados para o enchimento de grãos, causando problemas de exaustão de colmo.
A polinização é um período muito crítico para a planta, pois quatro fatores precisam acontecer ao mesmo tempo para que ela ocorra de forma perfeita, que são:
Antese: liberação de grãos de pólen pelo pendão.
Espigamento: exteriorização dos estilos-estigmas.
Polinização: chegada do grão de pólen até o estilo-estigma.
Fertilização: união dos núcleos espermáticos masculinos com os femininos.
Temperaturas acima de 32 ºC reduzem a germinação do grão de pólen e temperaturas acima de 35 ºC, acompanhadas de déficit hídrico, podem diminuir a produção de pólen e até causar secagem das anteras (Hoegemeyer, 2011). Por fim, temperaturas acima de 38 ºC podem inviabilizar o grão de pólen (Nielsen, 2020).
A liberação dos grãos de pólen acontece em grande parte nas primeiras horas da manhã, devido às temperaturas amenas, porém, nessa Safra foram registradas temperaturas acima de 30 ºC às 8h da manhã, durando até 20h da noite, ou seja, o milho passou mais de 12 horas com temperaturas bem acima do ideal para o seu cultivo.
Figura 1. Principais limites de temperatura para os efeitos do estresse térmico na polinização e no crescimento do milho. ¹Crafts-Brandner e Salvucci (2002), ²Nielsen (2020), ³Hoegemeyer (2011), ⁴Waqas et al. (2021), ⁵Miedema et al. (1987).
Fotossíntese líquida é a diferença entre o que a planta acumula de carbono com a fotossíntese menos o que ela gasta de carbono com a respiração.
A redução da fotossíntese líquida no milho está associada à inativação da enzima rubisco em altas temperaturas. Temperaturas acima de 30 ºC diminuem a fotossíntese líquida devido à perda da ativação da rubisco (Crafts-Brandner, Salvucci, 2002).
A quantidade da fotossíntese líquida reduzida em altas temperaturas varia de acordo com a velocidade em que a temperatura aumenta. Sendo que quanto mais rápido a temperatura subir, menor a quantidade de fotossíntese líquida.
Os estresses térmico e hídrico podem resultar em danos visíveis ao milho na forma de escaldadura solar. Isso ocorre quando o aumento na demanda evaporativa excede a capacidade de resposta da planta. A planta é incapaz de transpirar água com rapidez suficiente para resfriar o tecido foliar, causando a morte do tecido foliar. Folhas mais jovens e folhas com orientação direta para o sol são normalmente as mais afetadas.
A evaporação da água que as folhas do milho transpiram geralmente resfria as folhas, mantendo-as com uma temperatura mais baixa do que o ar ao seu redor.
Déficit de pressão de vapor é a diferença entre a quantidade de água que o ar pode reter quando está saturado e a quantidade de água que ele retém atualmente. Ele combina umidade relativa e temperatura em uma única variável para descrever o potencial evaporativo da atmosfera. O espaço no interior do tecido vegetal está totalmente saturado com água (100% UR). O vapor de água tenderá a mover-se de uma área de maior concentração para uma área de menor concentração, portanto, se o ar ambiente estiver com menos de 100% de umidade, ele retira a água das folhas das plantas, conduzindo a transpiração da água através da planta.
Quanto maior o déficit de pressão de vapor entre o interior da folha e o ar circundante, mais rapidamente a planta evapora a água. O déficit de pressão de vapor aumenta exponencialmente com o aumento da temperatura, mesmo que a UR permaneça constante. Por exemplo, se a UR do ar for de 30%, o déficit de pressão de vapor será muito maior a 38 °C do que a 25 °C, criando uma evaporação muito maior.
Em resumo, as perdas de produtividade ocasionadas pelas altas temperaturas associadas ao déficit hídrico variam muito de acordo com a intensidade e fase em que acontecem no cultivo. Pensando nesse cenário de Safrinha, quando o clima se mostra bastante instável, torna-se altamente recomendável a utilização de milhos híbridos com alta estabilidade produtiva, visando minimizar as perdas de produção.