Blog •  26/03/2024

Saúde do solo: como utilizar a bioanálise para ter mais produtividade agrícola

Viviane Ruela e Marília Ferreira 
Something went wrong. Please try again later...
análise de amostras de solo ao microscópio

Descubra a importância da saúde do solo e seu impacto na sustentabilidade. Veja como a Embrapa avança com pesquisas em busca de solos produtivos.

O solo é a base de todos os sistemas de produção de alimentos, fibras, produtos florestais e agroenergia. Além disso, possui extrema importância nas questões relacionadas à segurança alimentar, pois abriga a maior biodiversidade do planeta. Portanto, ele é o maior filtro e tanque de armazenamento de água do mundo.

Quando se fala em emissão de gases do efeito estufa, o solo também é fundamental pela sua capacidade de armazenar e estocar carbono. 

Como resultado, entendemos a importância do solo para a vida no planeta, por isso o interesse pelo tema “qualidade e saúde do solo” é relativamente recente e fundamental.

Saúde do solo

Durante muitos anos, deu-se importância apenas às características físicas e químicas do solo. Porém, o funcionamento efetivo depende também da parcela biológica. No fim da década de 1980, início de 1990, a Embrapa, por entender que a maquinaria biológica é a chave para a saúde do solo, aprofundou os estudos nessa área. 

A maquinaria do solo movimenta todas as engrenagens (Figura 1) do solo para um funcionamento mais equilibrado.

De acordo com a Embrapa (Mendes et al., 2018), a maquinaria biológica do solo é constituída por microrganismos (cerca de 70%), raízes e fauna. 

Ela apresenta uma estreita inter-relação com os componentes físicos e químicos, os quais influenciam em conjunto não só a produtividade e a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, mas também suas funções ecológicas e serviços ambientais.

São considerados solos saudáveis os que são biologicamente ativos, produtivos e resilientes. Auxiliam no desenvolvimento e na saúde da planta, das pessoas e dos animais que o utilizam. 

Além disso, preservam a qualidade ambiental e têm a capacidade de serem base para altas produtividades, além da biorremediação de pesticidas. É possível que consigamos altas produtividades em solo não saudáveis. 

Porém, faz-se necessário um aporte maior de fertilizantes e defensivos agrícolas, o que não é sustentável a longo prazo. Por isso, entender como estão as condições do solo é uma estratégia que o produtor rural pode adotar para ter maior produtividade de forma sustentável.

Indicadores da saúde do solo

Os indicadores microbiológicos, ou bioindicadores, são aliados no entendimento da saúde/qualidade biológica do solo. A maior vantagem é que eles são mais sensíveis do que indicadores químicos e físicos, detectando, com maior antecedência, a ocorrência de alterações no solo em função do seu uso e manejo. Dentre os bioindicadores, destacam-se as avaliações de biomassa microbiana e de atividade enzimática.

A biomassa é a parte viva e mais ativa da matéria orgânica do solo (MOS), sendo constituída, principalmente, por fungos, bactérias e actinomicetos. As enzimas, por sua vez, participam como catalisadoras das reações metabólicas intracelulares que ocorrem nos seres vivos. 

Além disso, as enzimas extracelulares desempenham papel fundamental, atuando em várias reações que resultam na decomposição de resíduos orgânicos (ligninases, celulases, proteases, glucosidases, galactosidases), ciclagem de nutrientes (fosfatases, amidases, urease, sulfatase), formação da MOS e da estrutura do solo.

Ao longo dos últimos anos, grande número de dados de pesquisa e de relatos de produtores demonstravam que nem sempre as alterações nas propriedades químicas, em particular os teores de MOS, eram capazes de identificar as modificações que ocorriam no solo em função da adoção desses manejos conservacionistas. Então, percebeu-se a necessidade de inclusão dos bioindicadores nas avaliações de rotina do solo.

Tecnologia BioAS

A BioAS é uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa que agrega o componente biológico nas análises de rotina de solos (Mendes et al., 2018; Mendes et al., 2019), que consiste na análise das enzimas arilsulfatase e β-glicosidase, associadas aos ciclos do enxofre e do carbono, respectivamente. Essas enzimas funcionam como indicadores, pois estão diretamente relacionadas ao potencial produtivo, e auxiliam na avaliação da saúde do solo.

Para uma recomendação de adubação, é feita uma análise química do solo e, pela comparação dos valores obtidos, atribui-se o grau de fertilidade. Posteriormente, para cada cultura/tipo de solo, define-se a quantidade de fertilizantes, ou de corretivos, a serem aplicados. 

A Embrapa desenvolveu tabelas que permitem a interpretação dos bioindicadores, as quais estabelecem valores de referência para avaliar o estado do funcionamento biológico do solo. Quando esses valores estão elevados, indicam sistemas de produção e/ou práticas de manejo do solo adequadas e sustentáveis. 

Já quando os valores estão abaixo dos indicadores, fica um alerta ao agricultor para uma reavaliação do sistema de produção, pois a saúde do solo pode estar comprometida, sendo necessária a adoção de boas práticas de manejo.

De forma prática, a tecnologia BioAS tem por objetivo auxiliar nas tomadas de decisões relacionadas aos sistemas de manejo adotados nas propriedades agrícolas.

Análises: 

Tabela 2. Classes de interpretação de bioindicadores para Latossolos Vermelhos argilosos de cerrado, sob cultivos anuais em plantio direto, na camada de 0 cm a 10 cm, específica para amostras de solo coletadas no período chuvoso.

Tabela 3. Classes de interpretação de bioindicadores para Latossolos Vermelhos argilosos de cerrado, sob cultivos anuais em plantio convencional, na camada de 0 cm a 10 cm, específica para amostras de solo coletadas na fase de floração.

Além da possibilidade de realizar a bioanálise em solo, pode-se fazer em fertilizantes com base em matéria orgânica, como condicionadores de solo e organomineral.

Tabela 4. Quantificação de arilsulfatase, fosfatase ácida e β-glicosidase.

Na análise acima, temos níveis adequados de enzimas, tanto no composto orgânico quanto no organomineral. Isso pode contribuir diretamente para a saúde do solo, além da função principal, que é a nutrição do solo e da cultura a ser instalada.

Portanto, analisar e entender como está a saúde do solo pelo agricultor pode auxiliar na tomada de decisões mais efetivas. Assim, tornando o processo de produção ambiental mais produtivo e sustentável.

Escrito por Viviane Ruela e Marília Ferreira, Agrônomas de Campo Brevant® Sementes.