Blog •  19/10/2023

Spodoptera frugiperda: práticas de manejo na cultura do milho

Fernando Lupinacci, Agrônomo de Campo 
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Lagarta em cultura do milho

Conheça as boas práticas de manejo da Spodoptera frugiperda (lagarta–do-cartucho ou lagarta-militar) na cultura do milho.

Spodoptera frugiperda: boas práticas de manejo na cultura do milho

A lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) é uma das principais pragas do milho. Essa espécie é extremamente polífaga, pode se alimentar tanto de órgãos vegetativos quanto de órgãos reprodutivos das plantas (inclusive no caso da cultura do milho). Além disso, ela se desenvolve rapidamente e causa grandes prejuízos se não controlada devidamente.

As ferramentas mais utilizadas para o seu controle na agricultura de larga escala praticada no Brasil são: o uso de culturas geneticamente modificadas para produzir proteínas inseticidas a partir da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) e o uso de pulverizações com inseticidas químicos e biológicos.

Spodoptera frugiperda: cenário atual

No sistema produtivo do país, são cultivadas safras sucessivas de plantas hospedeiras dessa praga. Desse modo, permite que diversos ciclos de vida do inseto sejam completados durante um longo período de tempo, aumentando a sua população nas áreas agrícolas. Se nessas safras sucessivas for utilizada uma única ferramenta de controle, seja ela a mesma proteína Bt, um único inseticida ou inseticidas de mesmo modo de ação, teremos uma alta pressão de seleção, e indivíduos que são naturalmente resistentes à ferramenta utilizada irão sobreviver, acasalar e gerar novos indivíduos resistentes, aumentando a sua população. Com a perpetuação desse ciclo, fica cada vez mais difícil o controle, além de diminuir ou perder a efetividade das ferramentas citadas anteriormente. Na literatura, é possível verificar casos de mapeamento a campo de populações de indivíduos resistentes tanto a proteínas Bt quanto a inseticidas.

Segundo Tabashnik et al. (2023), para culturas Bt, os casos de resistência prática passaram de 3, em 2005, para 26, em 2020. A resistência prática foi documentada em algumas populações de 11 espécies de pragas, entre elas a Spodoptera frugiperda, afetando coletivamente nove proteínas Bt cristalinas (cry) amplamente utilizadas em sete países. 

Já em relação a inseticidas, um estudo da mortalidade em razão da aplicação de um determinado inseticida utilizado no Brasil, feito por Muraro et al. (2022), relata que populações de Spodoptera frugiperda coletadas em campo no Brasil de 2003 a 2004 e de 2019 a 2021 tiveram mudanças significativas no sentido da diminuição da suscetibilidade ao inseticida estudado, fornecendo evidências robustas de seleção de indivíduos resistentes a campo.

Então, qual seria a melhor estratégia para controlar essa importante praga do milho? Uma sugestão é a utilização, de forma simultânea, das seguintes boas práticas de manejo:

Dessecação antecipada

As culturas antecessoras, assim como as plantas daninhas e voluntárias presentes no ambiente, podem servir como plantas hospedeiras para pragas, e isso não é diferente para a Spodoptera frugiperda. Assim, a dessecação antecipada da cobertura vegetal elimina a fonte de alimento da praga em questão. Além disso, facilita a operação de plantio e disponibiliza a palhada sobre o solo, promovendo a sua proteção.

Tratamento de sementes

O tratamento de sementes ajuda no controle das lagartas quando a cultura está em um estágio bastante vulnerável, ou seja, com pouca área foliar, que pode causar danos a essa pequena área foliar ou, até mesmo, perdas de plantas. Quando o tratamento de sementes é feito de maneira industrial, o benefício é ainda maior, dado a melhor cobertura da semente pelo ingrediente ativo. Todos os híbridos de milho da Brevant® Sementes são comercializados com tratamento de sementes industrial.

Área de refúgio efetivo estruturado

O refúgio estruturado permite que uma quantidade significativa de insetos-alvo da tecnologia não sejam expostos às proteínas Bt, servindo, assim, como fonte de insetos suscetíveis que irão se acasalar com os eventuais insetos resistentes oriundos da área Bt. O resultado desse cruzamento serão insetos suscetíveis e, portanto, passíveis de controle. Retardando, assim, a evolução da resistência dos insetos e colaborando com a durabilidade das tecnologias Bt.

As áreas de refúgio devem estar localizadas a uma distância máxima de 800 metros da lavoura com a tecnologia Bt e, no caso do milho, em um tamanho total de 10% da área da cultura. 

Controle de plantas daninhas e voluntárias

As plantas daninhas podem ser foco de lagartas em ínstares mais avançados, as quais apresentam maior dificuldade de controle pelas tecnologias Bt e por inseticidas, sejam eles químicos ou biológicos, além de causar grandes danos às plantas, pois, como são maiores, precisam de mais alimento. Além de eliminar uma planta que está sendo hospedeira de lagartas, o controle de plantas daninhas também permite que a cultura principal cresça sem competição.

Monitoramento de pragas e pulverizações complementares

O monitoramento é uma das principais atividades das boas práticas de manejo. Erroneamente, acredita-se que lavouras com milho Bt não necessitam de monitoramento. Mas elas necessitam sim, e pode ser necessário a aplicação de inseticidas, dependendo do que é observado no monitoramento. É sempre importante lembrar que o plantio de tecnologia Bt é apenas uma das ferramentas de manejo integrado de pragas. Ele deve ser adotado junto às demais boas práticas agrícolas.

Para a tomada de decisão sobre a necessidade de uso de inseticidas em milho Bt e nas áreas de refúgio, utiliza-se a escala Davis.

Lavouras com híbridos da Brevant® Sementes com as tecnologias Leptra® ou PowerCore® ULTRA devem receber aplicação de inseticidas quando for verificado no monitoramento 4% de plantas danificadas com nota igual ou superior a 3 na escala Davis. 

Nas áreas de refúgio, o monitoramento também deve ser realizado e o uso de inseticidas deve ser de 2 aplicações no máximo, até o estágio V6. Deve-se respeitar o nível de 20% de plantas com nota maior ou superior a 3 na escala Davis. O número de aplicações é limitado visando garantir o cumprimento do objetivo do refúgio: ser fonte de insetos suscetíveis para acasalar com os eventuais insetos resistentes provenientes das áreas Bt.

No monitoramento, deve-se ter atenção também ao ínstar em que se encontram as lagartas. Para um bom controle, a aplicação de inseticidas químicos ou biológicos deve ser feita em ínstar menos avançado, conforme ilustrado na figura a seguir.

 

Quando for necessário realizar o uso de defensivos agrícolas, as boas práticas de aplicação devem ser sempre respeitadas. Deve-se seguir as recomendações de uso da empresa formuladora do defensivo que estiver sendo utilizado.

Rotação de cultura

Rotacionando diferentes culturas, são criados diferentes ambientes, fazendo com que uma determinada praga não seja favorecida e permaneça com boas condições de desenvolvimento durante um longo período de tempo. Assim, o objetivo da rotação de culturas é quebrar o ciclo positivo para o desenvolvimento do inseto durante diferentes cultivos. Essa prática traz diversos outros benefícios, como melhora das propriedades físico-químicas do solo e a redução de fonte de inóculo de doenças. Além disso, auxilia no manejo de plantas daninhas devido à possibilidade de alternar modos de ação de herbicidas. Por fim, aumenta a produtividade do sistema.

A observação das boas práticas aqui citadas, além de melhorar o controle dessa importante praga, reduzir seus danos e levar a maiores produtividades, contribui para a maior durabilidade das ferramentas de controle, como proteínas Bt e inseticidas, promovendo, assim, a sustentabilidade da agricultura.

Escrito por Fernando Lupinacci, Agrônomo de Campo da Brevant® Sementes.

Referências Bibliográficas:

ABRASEM. Informativo técnico: boas práticas agronômicas aplicadas a plantas geneticamente modificadas resistentes a insetos. [S.I.], 2014. Disponível em: https://boaspraticasagronomicas.org.br/wp-content/uploads/2015/12/Apresentacao_Abrasem_2014_ok.pdf. Acesso em: 3 out. 2023.

ÁREA de refúgio: essencial para a durabilidade das tecnologias Bt. IRAC, 2016. Disponível em: https://www.irac-br.org/single-post/2016/11/16/%C3%A1rea-de-ref%C3%BAgio-essencial-para-a-durabilidade-das-tecnologias-bt. Acesso em: 4 out. 2023.

NÍVEIS de ação recomendados para o manejo de áreas de refúgio para a cultura do milho. IRAC, 2023. Disponível em: https://www.irac-br.org/single-post/n%C3%ADveis-de-a%C3%A7%C3%A3o-recomendados-para-o-manejo-de-%C3%A1reas-de-ref%C3%BAgio-para-a-cultura-do-milho. Acesso em: 4 out. 2023.

REFÚGIO estruturado. IRAC, 2023. Disponível em: https://www.irac-br.org/single-post/ref%C3%BAgio-estruturado. Acesso em: 4 out. 2023.

TABASHNIK, B. E.; FABRICK, J. A.; CARRIERE, Y. Global Patterns of Insect Resistance to Transgenic Bt Crops: The First 25 Years. Journal of Economic Entomology, v. 116, n. 2, p. 297-309, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1093/jee/toac183. Acesso em: 3 out. 2023.

MURARO, D. S. et al. Evidence of field-evolved resistance in Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) to emamectin benzoate in Brazil. Crop Protection, v. 162, p. 1-9, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.cropro.2022.106071. Acesso em: 3 out. 2023.