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Os impactos do pulgão-amarelo (Melanaphis sacchari) no cultivo do sorgo

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Conheça a praga, sua fisiologia, os danos e impacto econômico que ela causa, e entenda como o manejo integrado e novas tecnologias podem auxiliar em seu controle

   O sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) destaca-se entre as principais gramíneas do mundo, sendo essencial para a alimentação humana e animal, e para a produção de bioenergia. Sua adaptabilidade faz com que ele possa ser cultivado em diversas regiões, inclusive em áreas de clima adverso. Entretanto, essa expansão tem trazido novos desafios fitossanitários. O pulgão amarelo (Melanaphis sacchari) desponta como uma das pragas mais preocupantes, por ser capaz de reduzir severamente a produtividade, prejudicar a qualidade do grão e afetar diretamente a rentabilidade do produtor.

      Nos últimos anos, pesquisadores têm observado o avanço das infestações de Melanaphis sacchari em áreas produtoras de sorgo, o que exige a revisão e a aplicação de estratégias integradas de manejo. O sucesso no enfrentamento dessa praga depende da compreensão de sua biologia, fisiologia e das interações planta-praga, além da adoção de tecnologias e práticas sustentáveis que minimizem os danos econômicos e ambientais.

O que é o pulgão amarelo?

     O pulgão-amarelo é um afídeo pertencente à ordem Hemiptera e à família Aphididae. Os adultos podem medir de 1,2 a 1,8 mm, exibindo coloração que varia do amarelo ao verde-amarelado, com sifúnculos escuros e cauda pálida. A identificação correta é fundamental para o combate à praga, que pode ser confundida com outras espécies de pulgões.

     Seu ciclo de vida é notavelmente acelerado, principalmente em ambientes quentes e úmidos, nos quais cada fêmea partenogenética pode gerar de 30 a 60 ninfas em apenas duas semanas (Singh et al., 2020). As colônias iniciam-se nas folhas inferiores e se espalham pelo caule, pelas folhas superiores e pelas panículas, formando uma densa camada que interfere diretamente na fisiologia e na capacidade fotossintética da planta. A infestação é agravada pela secreção de exsudados açucarados, que favorecem o crescimento de fumagina e reduzem ainda mais a eficiência fotossintética da planta.

Como age o pulgão amarelo

     O Melanaphis sacchari possui aparelho bucal especializado em perfurar e sugar o floema, alimentando-se de seiva rica em açúcares. Esse comportamento causa desequilíbrio metabólico na planta, diminuindo a síntese de proteínas, prejudicando a fotossíntese e aumentando o estresse oxidativo (Harris et al., 2017).

     Além disso, o pulgão-amarelo também atua como vetor de importantes viroses do sorgo e da cana-de-açúcar, entre elas o vírus do mosaico da cana-de-açúcar (Sugarcane yellow leaf virus - SCYLV) e o vírus do mosaico do sorgo (Sorghum mosaic virus - SrMV). A transmissão desses patógenos pode resultar em clorose foliar, má formação ou não emissão de panículas, comprometimento do enchimento de grãos e perdas drásticas de produtividade. Zhao et al. (2016) e Hall et al. (2017) relatam que a não emissão de panículas pode levar a perdas superiores a 70% em regiões gravemente afetadas.

       Pesquisas recentes mostram que a presença do pulgão-amarelo altera mecanismos fisiológicos das plantas, como a indução de genes de defesa vegetal e aumento da produção de fitoalexinas, além de favorecer o surgimento de micotoxinas em razão da presença de fumagina, impactando negativamente a qualidade nutricional da forragem (Da Silva et al., 2021; Singh et al., 2020).

Problemática e Impacto Econômico

     O pulgão-amarelo tornou-se uma presença constante em lavouras de várias regiões do Brasil, bem como na América do Norte, África e Ásia, com registros de prejuízos econômicos superiores a 100 milhões de dólares por safra apenas no Brasil desde 2016 (Oliveira et al., 2023). Infestações severas podem causar perdas de rendimento entre 25 e 35%, e, em surtos graves, a produção de grãos e forragem pode ser comprometida em até 50% (Paudyal et al., 2019; Silva et al., 2022).

     Além das perdas quantitativas, há impactos sobre a qualidade nutricional do sorgo, como redução do teor de proteínas e aumento da incidência de fungos que se aproveitam do exsudado açucarado do pulgão (Singh et al., 2020). A transmissão de viroses agrava ainda mais o cenário, promovendo sintomas como clorose, nanismo e, em casos extremos, ausência de panículas, o que impede a produção de grãos.

     O rápido crescimento populacional do pulgão-amarelo é favorecido por condições climáticas quentes, pela ausência de inimigos naturais eficientes e pela facilidade de dispersão pelo vento. A infestação pode ocorrer desde o início do ciclo até a fase de enchimento dos grãos, exigindo monitoramento constante.

Manejo da praga

     O manejo químico é amplamente utilizado, especialmente em fases iniciais de grande infestação. Inseticidas à base de neonicotinóides (imidaclopride, thiamethoxam) e sulfoxaminas (sulfoxaflor) têm apresentado boas taxas de eficácia (Harris et al., 2017). No entanto, o uso indiscriminado dessas substâncias pode favorecer o desenvolvimento de resistência, afetar inimigos naturais e causar contaminação ambiental. Por isso, recomenda-se sempre seguir as diretrizes do Manejo Integrado de Pragas (MIP), realizando aplicações apenas quando os níveis de dano econômico forem atingidos.

     O controle biológico é feito por meio do incentivo à presença de inimigos naturais, como joaninhas (Coccinellidae), crisopídeos (Chrysopidae) e parasitoides (Aphidius colemani), sendo fundamental para a manutenção do equilíbrio do agroecossistema. Estudos recentes indicam que áreas com alta diversidade de inimigos naturais podem reduzir até 70% das populações do pulgão-amarelo (Paudyal et al., 2019). O controle biológico, aliado ao uso racional de inseticidas seletivos, oferece alternativa sustentável e de baixo impacto ambiental.

Controle cultural e tecnologia genética Protector

     As práticas culturais tradicionais no manejo do pulgão-amarelo do sorgo incluem técnicas como destruição de restos culturais, rotação de culturas, semeadura em períodos menos favoráveis à praga e a escolha de cultivares tolerantes. Nesse contexto, o manejo adequado dos resíduos pós-colheita é fundamental para evitar a sobrevivência de colônias entressafras. Pesquisas indicam que o uso de cultivares tolerantes reduz significativamente a necessidade de intervenções químicas (Silva et al., 2022).

Tecnologia a favor do produtor

     Recentemente, a Corteva™ Agriscience desenvolveu a tecnologia genética exclusive Protector™ para auxiliar no manejo do pulgão-amarelo (Melanaphis sacchari) em sorgo, conferindo tolerância a seus híbridos dessa cultura. Trata-se de uma característica genética presente nas sementes de sorgo, e não de um produto de aplicação externa, tornando as plantas mais resistentes à infestação do pulgão-amarelo.

    O melhoramento genético envolve três diferentes mecanismos: a antixenose que desencoraja ou repele o inseto, tornando a planta menos atraente para alimentação ou postura de ovos; a antibiose, que afeta negativamente a biologia do inseto, resultando em menor crescimento ou mortalidade; e a tolerância, que é a capacidade da planta de suportar os danos sem perdas significativas de produtividade.

     A tecnologia Protector™ atua em múltiplos níveis: impede a instalação inicial do pulgão-amarelo, reduz o crescimento populacional durante surtos e dificulta a transmissão de viroses associadas ao inseto. Estudos de campo realizados no México demonstraram que lavouras de sorgo com o gene Protector™ apresentaram redução de até 80% na incidência do pulgão-amarelo, em comparação com cultivares convencionais, além de manterem a produtividade e a qualidade nutricional dos grãos (García-López et al., 2024).

     Resultados de ensaios multiambientais indicam que a adoção de cultivares com a tecnologia Protector™ sob condições de alta pressão de pulgão proporcionou uma redução média de 75 a 85% na densidade populacional do inseto, com diminuição proporcional de danos econômicos e ambientais (Ramírez-Pérez et al., 2023). Além disso, houve redução do uso racional de inseticidas, favorecendo sistemas produtivos mais resilientes.

     Sendo assim, a abordagem genética do Protector™ reduz substancialmente a necessidade de aplicações de inseticidas, contribuindo para a sustentabilidade do agroecossistema e para a preservação de inimigos naturais. Vale ressaltar que, ainda assim, essa tecnologia não exclui a necessidade de monitoramento e eventual manejo da praga.

Recomendações para o combate da praga

     O Manejo Integrado de Pragas (MIP) recomenda a integração de todas as estratégias: químicas, biológicas, culturais e protetoras, além da constante monitorização das lavouras. A tomada de decisão baseada em níveis de ação é essencial para evitar perdas econômicas e ambientais.

   O desenvolvimento de híbridos tolerantes, aliados à capacitação dos produtores na identificação precoce de infestações e no monitoramento sistemático, representa o caminho mais eficaz para a sustentabilidade da cultura e para a redução dos prejuízos. A pesquisa contínua sobre as interações planta-praga, a fisiologia do pulgão e os mecanismos de resistência vegetal será determinante para o surgimento de novas tecnologias de controle e para o aprimoramento das práticas já adotadas.

    Em resumo, o pulgão-amarelo (Melanaphis sacchari) representa um dos desafios mais complexos para a cultura do sorgo, causando prejuízos diretos e indiretos, seja pela sucção de seiva, transmissão de viroses ou redução da qualidade nutricional. Seu enfrentamento eficaz requer ações integradas, envolvendo controle químico racional, incentivo ao controle biológico, adoção de práticas culturais e protetoras e o desenvolvimento de cultivares resistentes. A capacitação dos profissionais do campo e a pesquisa científica contínua são essenciais para fortalecer sistemas produtivos mais resilientes, promovendo sustentabilidade e reduzindo impactos ambientais. E o melhoramento genético das sementes com a tecnologia Protector™ pode se tornar um forte aliado do produtor nesse processo.

Referências Bibliográficas

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