Blog •  05/12/2022

Como a sucessão familiar no agro impacta as próximas gerações

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Sucessão familiar no agro.

O desafio de manter a sustentabilidade do negócio com as mudanças na gestão familiar

Empresas de sucesso normalmente contam com grandes líderes em sua gestão. E quando a empresa é familiar, o líder, além de desempenhar o papel de gestor, exerce também o mesmo papel como membro da família. Esse cenário acontece em qualquer negócio, inclusive no agro. E entender as responsabilidades de estar à frente dos negócios independe da vontade, ou seja, sempre será necessário ter alguém preparado para os desafios, seja essa pessoa da família ou não.

A sucessão familiar requer planejamento. É muito importante que em uma empresa de controle familiar as governanças estejam estruturadas e os papéis e responsabilidades de cada instância estejam claros e sejam colocados em prática. O gerente de pesquisa e conteúdo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, Luiz Martha, explica que “ao estruturar a governança familiar por meio de documentos, processos e ritos, por exemplo, é possível transmitir e sedimentar os valores familiares e criar, assim, uma próxima geração que entenda a importância de respeitar os valores que trouxeram a família e a empresa até onde ela chegou”. Ele explica ainda que a geração que está no comando precisa entender que é preciso atualizar esses valores com aquilo que os novos sucessores consideram importante. “Nesse sentido, a sucessão é apontada como um dos principais desafios e deve caminhar para um processo de construção coletiva, um momento de sedimentação e atualização dos valores e da visão de futuro da família e do negócio, no qual todos sejam ouvidos e se busquem convergências que minimizem conflitos que possam impactar as relações familiares e a longevidade do negócio”, recomenda.

O momento da sucessão

Quando um patriarca passa a gestão do seu negócio rural para algum parente, a sucessão familiar está consolidada. O principal objetivo da sucessão familiar é garantir a sustentabilidade, aplicando na prática o ESG (sigla em inglês: E = Environmental, S = Social e G = Governança), ou ASG, em português (A = Ambiental, S = Social e G = Governança). 

O processo sucessório nas empresas familiares precisa ser contínuo e ocorrer no âmbito da família, propriedade e gestão. A sucessão é um dos processos mais determinantes e complexos das empresas de controle familiar, quando a família empresária se vê frente a frente com suas ambiguidades, tendo de lidar, de um lado, com aspectos financeiros e estruturas legais; de outro, com fatores emocionais, vínculos e cultura familiares.

Para Luiz Martha, a transição familiar pode oferecer oportunidades de crescimento, mas ao mesmo tempo desconforto. “Para enfrentar os desafios, é importante que a família empresária se prepare previamente, com diálogos e definição de regras e estruturas alinhadas às melhores práticas de governança corporativa e familiar. Um processo sucessório bem planejado e bem executado contribui para o crescimento sustentável e a longevidade do negócio e a continuidade do legado da família”, e completa explicando que “quanto mais inclusivo e consensual for o processo sucessório, melhor. Quanto mais informações, treinamento e interação entre os membros da família, melhor. Quanto mais todos conhecerem seus pares, direitos e deveres, bens, objetivos e estratégias do negócio, tanto mais tranquila será a transição.”

Desafios das empresas familiares

Os desafios das empresas familiares são, em muitos aspectos, os mesmos enfrentados por qualquer tipo de empresa. Estratégia, planejamento, gestão e governança corporativa constituem itens tão importantes para as empresas familiares quanto para as não familiares. No entanto, nas empresas familiares a mistura com as ligações afetivas podem tornar esses desafios ainda mais complexos. Isso pode se refletir, por exemplo, no gerenciamento das expectativas e na preparação dos herdeiros durante o processo de sucessão. Como explica Luiz Martha, “a sucessão é um processo que requer organização, planejamento, cuidado, empatia e tempo. Tradicionalmente, fundadores tendem a postergar a discussão desse processo, que deve acontecer, preferencialmente, enquanto eles ainda estão em pleno vigor físico e intelectual, possibilitando tanto delinear o futuro da empresa e da família quanto preparar adequadamente sucessores, traçando estratégias tributárias e repactuando a governança da família e dos negócios.”

O perfil da sucessão no agronegócio

Para avaliar melhor a prática de governança corporativa no agronegócio, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC desenvolveu a pesquisa Governança no Agronegócio: percepções, estruturas e aspectos ESG nos empreendimentos rurais brasileiros. A pesquisa contou com 367 respondentes que atuam na agropecuária e os resultados mostram que o planejamento da sucessão está entre as principais necessidades de governança para os empreendimentos rurais, sendo apontado por 54% dos participantes. Na sequência, estão o mapeamento de riscos corporativos e operacionais, com 52%; melhorias no ambiente de controles internos e compliance, com 51%, e formalização de papéis e responsabilidades, com 50%.

Contribuição dos herdeiros para o mercado

A governança familiar é diferente da governança corporativa e isso deve ficar claro para os membros da família. Enquanto uma trata da relação da família e da propriedade, outra se ocupa de todos os processos de organização, incluindo princípios, práticas e estruturas do dia a dia do negócio. Para Luiz Martha, à medida que os herdeiros passam a questionar mais o seu papel nos negócios, surgem discussões que podem mudar algumas práticas que já estavam enraizadas, “quando os sucessores começam a questionar o presente e o futuro do negócio da família, o amadurecimento das práticas de governança e gestão é discutido e, a partir desta nova perspectiva, os herdeiros podem trazer novas visões, fruto dos seus próprios valores, ambições, conhecimentos e experiências”. Ainda de acordo com o gerente de pesquisa, é possível que os sucessores deem mais importância às inovações tecnológicas, por exemplo: “Colocando mais foco na inovação e nas discussões sobre planejamento sucessório, os herdeiros contribuem para fortalecer seus próprios negócios e, por conseguinte, também o setor, que se beneficia de empresas mais maduras e preparadas para os desafios do seu tempo.”

Alguns dos desafios das empresas familiares têm relação com paternalismo e protecionismo, ingerências indevidas na gestão, centralização e dificuldades em compartilhar o poder decisório, decisões de caráter emocional, confusão patrimonial e financeira, por exemplo. “Em uma empresa familiar, o aspecto emocional pautado pelas relações de parentesco e intimidade é um desafio constante. Mantê-lo em equilíbrio é fundamental e é mais fácil quando os familiares têm maturidade e capacidade para se relacionar com os pares e entender o negócio”, explica Luiz Martha.

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