Blog •  31/07/2023

Milho tiguera e os impactos em produtividade nas culturas subsequentes

Ana Paula Oliveira, zootecnista 
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milho tiguera

A importância do controle de milho voluntário para a maximização da produção e controle de pragas.

 

De acordo com a Conab, estima-se que a produção total de milho alcance 125,7 milhões de toneladas na Safra 2022/2023, o que representa um aumento significativo de 11,1% em comparação com a safra anterior. 

O milho desempenha um papel fundamental na agricultura brasileira, representando aproximadamente 40% da safra total de grãos. Com o aumento do cultivo do milho de segunda safra e em sistemas irrigados, a sazonalidade de plantio foi quebrada, o que tem levado a um aumento na pressão de pragas e doenças específicas dessa cultura.

O milho voluntário, também conhecido como tiguera ou guaxo, refere-se às plantas de milho que crescem espontaneamente em áreas agrícolas, geralmente resultantes de grãos perdidos ou não colhidos durante a colheita anterior.

Essas plantas são consideradas "voluntárias" porque surgem de forma não planejada e podem ser um problema para os agricultores, pois competem por recursos, como água, nutrientes e luz solar com as culturas desejadas, que estão sendo cultivadas na mesma área. Além disso, essas plantas podem abrigar pragas e doenças que podem afetar negativamente a produtividade do próximo cultivo de milho, ou até mesmo do cultivo atual, caso as pragas, ou doenças, sejam compartilhadas.

O milho voluntário se tornou uma das espécies daninhas mais prevalentes no milho e na soja desde a introdução de variedades de soja resistentes ao glifosato em 1996 e híbridos de milho resistentes ao glifosato em 1998, uma vez que ambas as culturas são resistentes ao mesmo grupo químico. A presença crescente de milho tiguera na agricultura tem sido correlacionada com a adoção de milho resistente a herbicidas.

Competição e redução da produtividade devido à presença de planta voluntária

Quando não é controlado, o milho voluntário pode reduzir o rendimento tanto do milho quanto da soja. Para minimizar a presença de milho voluntário no campo, é importante adotar práticas adequadas de manejo, como a correta regulagem das colhedoras para reduzir as perdas de colheita e evitar a germinação de sementes de milho perdidas, além do controle de plantas daninhas, para evitar a infestação de milho voluntário.

Estudos demonstraram que o rendimento da soja é afetado de forma crescente conforme aumenta a densidade de plantas de milho na área. A presença de 0,5 planta de milho por metro quadrado reduziu o rendimento da soja em 9,3%. No entanto, quando a população de milho aumentou para 16 plantas por metro quadrado, as perdas no rendimento da soja foram ainda mais significativas, atingindo 76,2% (RIZZARDI et al., 2012).

Figura 1. Perdas de rendimento de grãos de soja em função da população de plantas de milho. 

Fonte: RIZZARDI et al., 2012.

A alta competitividade do milho voluntário afetou os componentes do rendimento das culturas e resultou em significativas perdas de produtividade, como mostra a tabela 1.

Tabela 1. Perdas na produtividade das culturas (%) em função da competição com populações de milho tiguera originado de plantas individuais e touceiras.

Adaptado de: PIASECKI et al.,2018; PIASECKI e RIZZARDI, 2019.

Impactos indiretos do milho voluntário na agricultura

A erradicação de milho voluntário é uma prática de manejo essencial, pois tais plantas podem atrair diversas pragas que causam danos significativos às lavouras. Entre as pragas mais favorecidas pela presença de milho voluntário, destacam-se o percevejo-barriga-verde (Diceraeus melacanthus), a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) e a lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda).

O percevejo-barriga-verde, pertencente à família Pentatomidae, é conhecido por se alimentar da seiva das plantas de milho, causando danos diretos ao cultivo. Sua presença em grande quantidade pode levar à redução do rendimento e à má-formação das espigas.

Já a cigarrinha-do-milho, da família Cicadellidae, é um inseto vetor de doenças que afetam o milho, como os enfezamentos. Ela se alimenta da seiva das plantas de milho, transmitindo bactérias patogênicas durante esse processo. Essas doenças podem causar danos significativos à produtividade e à qualidade do milho. Tais efeitos são intensificados em áreas com ocorrência de milho tiguera.

A lagarta-do-cartucho-do-milho, também conhecida como lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar, é uma das principais pragas do milho. Suas larvas se alimentam das folhas, espigas e cartuchos das plantas de milho, causando danos severos, podendo até mesmo destruir completamente a cultura em casos de infestações intensas.

Além de pragas e doenças, existe a possibilidade de ocorrência de fitonematoides na área de cultivo, que são pequenos organismos (vermes) que se alimentam das raízes das plantas ao sugar o conteúdo celular, sendo classificados como endo ou ectoparasitas, caso fiquem dentro ou fora da raiz para se alimentar.

Seu modo de alimentação inviabiliza a absorção de água e nutrientes pelas plantas, resultando em sintomas semelhantes às deficiências nutricionais e/ou plantas pouco desenvolvidas. A identificação da presença do parasita se dá pela presença de reboleiras na área de cultivo.

A presença de tigueras pode disseminar a presença do nematoide nas áreas e existe certa dificuldade em controle de parasitas que estão alocados no solo. Pensando nisso, a Brevant® Sementes lançou, no início de 2022, Lumialza™, um nematicida biológico que protege a raiz das plantas de milho e de soja, ajudando a controlar os nematoides (Pratylenchus spp., Heterodera glycines e Meloidogyne incognita).

O que fazer para controlar o milho tiguera?

Para controlar essas pragas, associadas às plantas voluntárias de milho, é fundamental adotar medidas de manejo integrado de pragas (MIP). Isso inclui a eliminação das plantas voluntárias para reduzir o abrigo e a disponibilidade de alimento para as pragas, além do uso de práticas culturais adequadas, como rotação de culturas, monitoramento constante e aplicação criteriosa de inseticidas quando necessário.

Referências

EMBRAPA MILHO E SORGO. Manejo da cigarrinha e enfezamentos na cultura do milho. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/sanidade-vegetal/arquivos/Cartilhacigarrinhaeenfezamentos_Embrapa.pdf >. Acesso em: 30/06/2023.

EMBRAPA. Controle da cigarrinha-do-milho: enfezamentos por molicutes e cigarrinha no milho. Disponível em: < https://www.embrapa.br/controle-da-cigarrinha-do-milho >. Acesso em: 30/06/2023.

COMITÊ DE AÇÃO A RESISTÊNCIA AOS HERBICIDAS - HRAC-BR. Informe técnico: o desafio do milho tiguera. Disponível em: < https://upherb.com.br/ebook/Informe%20T%C3%A9cnico%209%20-%20O%20desafio%20do%20milho%20tiguera.pdf>. Acesso em: 30/06/2023.

FARIA, A. Controle de milho e soja tiguera. II Seminário Mato-Grossense sobre Manejo da Resistência. Cuiabá, jul. 2019. Disponível em: <https://b73f4c7b-d632-4353-826f-b62eca2c370a.filesusr.com/ugd/48f515_dba25b8d58fb48ffab6ca47c599bd0d5.pdf>. Acesso em: 30/06/2023.

MARQUARDT, P. T.; KRUPKE, C. H.; CAMBERATO, J. J.; JOHNSON, W. G. The effect of nitrogen rate on transgenic corn Cry3Bb1 protein expression. Pest Management Science, 70(5), 763-770, 2013.

PIASECKI, C.; RIZZARDI, M. A. Grain yield losses and economic threshold level of GR® F2 volunteer corn in cultivated F1 hybrid corn. Planta Daninha, 2019. v. 37: e019182131.

PIASECKI, C.; RIZZARDI, M. A., SCHWADE, D. P., TRES, M., SARTORI, J. Interference of GR® volunteer corn population and origin on soybean grain yield losses. Planta Daninha, 2018. v. 36, e018161420. 

RIZZARDI, M. A.; LANGE, M. S.; KOENIG, M. A.; COSTA, D. O. Nível de dano de milho resistente ao glifosato em soja RR. XXII Mostra de Iniciação científica, 2012. < http://semanadoconhecimento.upf.br/download/marcela_sebastiany_lange-139360-resumo-nivel_de_dano_de_milho_resistente_ao_glifosato_em_soja_rr.pdf>. Acesso em: 30/06/2023.