Blog •  21/11/2023

Cigarrinha-africana – Um novo desafio para o produtor rural

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Cigarrinha-africana

Com a recente identificação da nova praga, a cigarrinha-africana, em Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná, o produtor deve ficar atento e monitorar sua lavoura.

Uma nova espécie de cigarrinha (cigarrinha-africana, Leptodelphax maculigera) foi identificada recentemente no Brasil, gerando maior apreensão e preocupações para os produtores brasileiros.

A praga foi recentemente identificada em três estados brasileiros: Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul.

Sua origem vem das porções tropicais africanas. Nas Américas, sua presença havia sido documentada apenas no Brasil, especificamente em Goiás, entre julho e novembro de 2022, em culturas de milho, capim-elefante e até mesmo em feijão, antes de sua identificação recente no Rio Grande do Sul e no Paraná, em lavouras de milho.

A cigarrinha-africana é uma espécie de menor tamanho em comparação com a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) e distinguida também pela presença de uma mancha preta na região frontal da cabeça (figura 1).

Figura 1. Comparativo entre a cigarrinha-africana e a cigarrinha-do-milho

L. maculigera vs D. maidis, vista ventral. Foto: Josemar Foresti/Corteva

L. maculigera vs D. maidis, vista dorsal. Foto: Josemar Foresti/Corteva

Hábitos e controle da cigarrinha-africana

Pesquisas apontam que a cigarrinha-africana tem hábito alimentar polífago e preferencialmente em plantas da família Poaceae (gramíneas), não sendo dependente só do milho para a sua reprodução, como ocorre com a cigarrinha-do-milho.

Se confirmado, a cigarrinha-africana pode sobreviver em outros hospedeiros, e manter uma população mais elevada ao longo do ano – ponto de atenção para os próximos anos. Porém esse quadro também pode contribuir para que a cigarrinha-africana tenha uma baixa infecção por Mollicutes causadores dos enfezamentos (fitoplasma e espiroplasma), uma vez que estes não persistem vivos em outras plantas a não ser no milho.

A Corteva Agriscience está monitorando atentamente os novos estudos que estão surgindo e já incorporou essa nova praga na sua linha de estudo de Proteção de Cultivos. 

O manejo químico e outras táticas de controle da cigarrinha-do-milho teoricamente funcionam de modo semelhante para a cigarrinha-africana. Porém, é necessário que novos estudos sejam feitos para evidenciar mais informações sobre o hábito e ciclo da praga.

Seria importante entender, por exemplo, qual a frequência dela no milho e se tem preferência por milho ou por outras gramíneas. Precisa-se também desenvolver trabalhos básicos relacionados à biologia, ecologia, parâmetros de contaminação e transmissão de doenças.

As boas práticas agrícolas (BPA) se tornam neste momento ainda mais importantes para o agricultor brasileiro mitigar potenciais danos às lavouras.

Na tabela 1, apresentamos o que se sabe sobre a cigarrinha-africana e um comparativo às informações conhecidas sobre a cigarrinha-do-milho. 

Tabela 1. Relação de itens comparativos da cigarrinha-do-milho e da cigarrinha-africana

Fonte: Corteva Agriscience

Cigarrinha-do-milho: considerações e doenças transmitidas

Como uma das principais pragas que acomete o milho no Brasil e pelo potencial de similaridade entre os efeitos causados pela cigarrinha-africana, é importante relembrarmos seus efeitos.

A principal preocupação com a cigarrinha-africana é a possibilidade de transmitir Mollicutes (bactérias que vivem sobre ou dentro de células de um hospedeiro), causadores de doenças conhecidas como enfezamentos do milho, que até então são transmitidas apenas pela cigarrinha-do-milho. 

Os Mollicutes podem afetar seriamente as plantações de milho. Entre as doenças transmitidas, destacam-se:

  • enfezamento pálido: esse enfezamento apresenta como característica o amarelamento das folhas do ponteiro da planta (podendo evoluir para terços inferiores da planta) e pode apresentar também outros sintomas que comprometem a produtividade; 

  • enfezamento vermelho: apresenta sintomas como vermelhidão nas folhas do ponteiro da planta, também podendo evoluir para terços inferiores da planta, e apresenta também outras características que resultam na redução da produtividade. 

Cigarrinhas: impactos que vão muito além das perdas produtivas

Como comentamos, as doenças transmitidas pelas cigarrinhas-do-milho podem causar danos significativos às plantas de milho, como: 

  • espigas malformadas e de tamanho reduzido;

  • plantas de milho com estatura reduzida e encurtamento de entrenós;

  • falhas na absorção de nutrientes, prejudicando o crescimento saudável das culturas;

  • produção de grãos reduzida e formação de grãos chochos;

  • morte prematura de plantas.

Estima-se que as perdas em produtividade das lavouras podem variar de 20% a 30%, dependendo da intensidade da infestação e das condições ambientais (Oliveira et al., 2002).

Traduzindo em números e em expectativa de retorno financeiro, o prejuízo, hoje, varia de R$ 897,60 até R$ 1.976,80 por hectare, dependendo da região e do grau de perdas em produtividade (tabela 2).

Tabela 2. Estimativa de potencial prejuízo causado pelas cigarrinhas-do-milho

Fonte: ¹Conab, ²Scot Consultoria/Elaborado por Scot Consultoria

Não se sabe se a cigarrinha-africana poderá ter o mesmo impacto causado pela cigarrinha-do-milho, mas é importante lembrar que o manejo é essencial. 

O controle eficaz da maior parte das pragas que ocorrem nas propriedades requer uma abordagem integrada que combine diversas estratégias e, com a cigarrinha-africana, apesar da pequena quantidade de informações científicas disponíveis, não será diferente. Abaixo, reforçamos alguns dos componentes do manejo integrado de pragas

Informação, treinamento e manejo serão as palavras de ordem

Aos agricultores, buscar informações sobre a identificação da cigarrinha-africana, seus hábitos e métodos de controle adequados junto ao Engenheiro Agrônomo responsável será fundamental.

Com mais informações em mãos, adaptar as estratégias de controle à sua situação específica e às condições locais será passo fundamental para o sucesso no manejo ao risco potencial que a cigarrinha-africana poderá trazer às culturas de milho e gramíneas.

A atenção constante aos preceitos das BPA e MIP, aliado à informação e a aproximação com o agrônomo de campo terão papéis fundamentais para preservar a saúde das lavouras e garantir a sustentabilidade da agricultura, adaptando-se às ameaças emergentes como a cigarrinha-africana.

Referências

FERREIRA, K. R. et al. FIRST RECORD OF THE AFRICAN SPECIES Leptodelphax maculigera (Stål, 1859) (Hemiptera: Delphacidae) IN BRAZIL. Research Square, 2023. Acessado em: 9/10/2023. Disponível em: https://assets.researchsquare.com/files/rs-2818951/v1/5104f465-160a-4d65-81b6-aec942834573.pdf?c=1683324604

OLIVEIRA, C. M.; OLIVEIRA, E.; CRUZ, I. Efeito de diferentes densidades do vetor Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae) na severidade de doenças causadas por fitoplasma e por Spiroplasma kunkelii em milho. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 26, p. 509, 2001. 

OLIVEIRA, E. et al. Enfezamentos em milho: expressão de sintomas foliares, detecção dos molicutes e interações com genótipos. Embrapa Milho e Sorgo, 2002. Acessado em: 9/1/2023. https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/480747/1/Enfezamentosmilho.pdf

OLIVEIRA, E. et al. Enfezamento pálido e enfezamento vermelho na cultura do milho no Brasil Central. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 23, n. 1, p. 45-47, 1998.

PICANÇO, M. C.; GONRING, A. H. R.; OLIVEIRA, I. R. Manejo integrado de pragas. Viçosa, MG: UFV, 2010.

WILSON, S. W. Keys to the families of Fulgoromorpha with emphasis on planthoppers of potential economic importance in the southeastern United States (Hemiptera: Auchenorrhyncha). Florida Entomologist, v. 88, n. 4, p. 464-481, 2005. (https://doi.org/10.1653/0015-4040(2005)88[464:KTTFOF]2.0.CO;2)

KOJI, S. et al. Seasonal abundance of Maiestas banda (Hemiptera: Cicadellidae), a vector of phytoplasma, and other leafhoppers and planthoppers (Hemiptera: Delphacidae) associated with Napier grass (Pennisetum purpureum) in Kenya. Journal of Pest Science, n. 85, p. 37-46, 2012. (https://doi.org/10.1007/s10340-011-0376-z)