A importância da agilidade nas decisões
Gestão eficiente do agronegócio depende da rapidez e assertividade das escolhas dos produtores
Gestão eficiente do agronegócio depende da rapidez e assertividade das escolhas dos produtores
A agricultura e a pecuária têm papel fundamental no contexto socioeconômico brasileiro. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP (Cepea), obtidos em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio no Brasil cresceu 8,36% em 2021, alcançando uma participação de 27,4% no PIB brasileiro, a maior desde 2004 (27,53%).
A importância do agronegócio no cenário nacional e mundial reforça a necessidade de investir na gestão eficiente das propriedades – o que envolve estratégias para tomar decisões de maneira rápida e assertiva, com base em dados sólidos e informações relevantes. “O agronegócio está passando por uma fase muito importante de transformação para se tornar mais relevante e conectar sustentabilidade, custos e a governança ambiental, social e corporativa (ESG). A implantação da agricultura 4.0 implica uma tomada de decisão ágil. Esse é um processo colaborativo, interativo e transparente. Isso significa que todas as partes interessadas são atualizadas sobre as tarefas atribuídas em intervalos regulares, dão feedback e, em seguida, a equipe sabe o que precisa ser alterado ou melhorado”, ressalta Paulo Almeida, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral nas áreas de Liderança, Pessoas, Desenvolvimento Organizacional e Neurogestão e, no setor do agronegócio, é Diretor Técnico de Programas de Desenvolvimento de Liderança.
No universo dos negócios, a velocidade maior tem impactado decisões de negócio, a continuidade de operações e aspectos da gestão de pessoas. Segundo a pesquisa "Realidade e percepções da alta liderança frente à crise", realizada pela Fundação Dom Cabral, em parceria com o Page Group, dois em cada três executivos de alto escalão estão tomando decisões mais rápidas, sendo que 40% dos entrevistados admitiu decidir muito mais rapidamente do que antes da pandemia e 30% em uma velocidade um pouco mais rápida. Os líderes afirmam que é essencial ter respostas rápidas frente aos diversos cenários existentes. Os executivos também destacaram o ritmo de transformação tecnológica nos negócios nos quais atuam, sendo que 77% considera que foi acelerado. O estudo foi realizado em setembro e outubro de 2020, com 230 executivos em todo o Brasil.
No contexto do agronegócio, a tomada de decisão tem que ser bem fundamentada, seja na definição de metas, escolha de insumos e fornecedores ou até na distribuição da produção, e cada vez mais o produtor precisa ser ágil nesse processo. Por envolver inúmeras variáveis, as decisões no agronegócio devem ser pensadas estrategicamente, levando em consideração as influências internas e externas. A tecnologia pode contribuir – e muito – no processo decisório, já que hoje, por meio de diversas ferramentas digitais, pesquisas e softwares, é possível obter dados em tempo real, fazer previsões e analisar o cenário para otimizar as escolhas, impactando positivamente a produtividade e o lucro da propriedade.
Almeida destaca que a tomada de decisões assertivas também implica na capacitação das equipes de projetos para que a entrega supra as necessidades da maneira mais eficiente e bem-sucedida possível. “Uma equipe ágil verifica o cliente regularmente. Uma liderança adaptativa e ágil entende as vantagens de trabalhar em redes e de descentralizar as decisões nas pontas”, observa.
O especialista explica que a ESG e o agronegócio têm uma série de características desafiadoras, que exigem uma gestão com visão contemporânea. O contexto financeiro e operacional desse setor é altamente volátil, tanto nas condições de produção quanto de mercado, impactando nas decisões. “Uma combinação de processos biológicos de produção que estão sujeitos a predadores biológicos imprevisíveis (doenças, insetos, patógenos etc.), combinados com padrões variáveis de clima/calor/chuvas, resulta em uma variabilidade significativa nas condições de produção e processamento e, portanto, em eficiência e produção. Essa flutuação na produção ou oferta, combinada com a demanda inelástica ou não responsiva por produtos alimentícios, resulta em dramáticas flutuações de preços, particularmente nas fases de matérias-primas agrícolas e pecuárias da cadeia de abastecimento. E os atrasos de tempo entre uma nova ideia e um produto comercialmente viável são muito mais longos do que em indústrias caracterizadas por processamento de fluxo contínuo e ciclos de produção curtos”, esclarece.
Existem dois tipos de decisões: as que podem ser previstas ou programadas e as não programadas. No primeiro caso, são soluções utilizadas com frequência nas situações do dia a dia. Problemas já enfrentados e que surgem sempre de maneira parecida podem ter uma estratégia definida para resolvê-los. Almeida aponta que, para isso, seria necessário ter uma rede de registro e de compartilhamento de experiências e de conhecimentos com um benchmarking atualizado. “O desenvolvimento da estratégia em um ambiente incerto é um processo de dois estágios: primeiro, escolher uma postura estratégica que defina a intenção e, em segundo lugar, selecionar um portfolio de ações que são os movimentos ou atividades específicas que podem ser usados para implementar essa estratégia. No quadro de incerteza atual, e pensando na vasta experiência da Fundação Dom Cabral com stakeholders de agronegócio e com milhares de outros, em geral, a recomendação seria a de cautela em decisões mais programadas”, observa.
Sobre as decisões não programadas, que são destinadas a novas circunstâncias e exigem um novo curso de ação, o professor lembra que a volatilidade do agronegócio também pressupõe a adoção de uma liderança adaptativa. “Ela ajuda os indivíduos e as organizações a se adaptarem e prosperarem diante dos desafios e os preparam para assumir o processo de mudança. Essa abordagem de liderança envolve diagnosticar, interromper e inovar como meio de criar capacidades que se alinham às aspirações de uma organização. A abordagem de liderança adaptativa é diferente porque trata de como os líderes incentivam as pessoas a se adaptarem, concentrando-se nas adaptações exigidas das pessoas em resposta a ambientes em mudança. É simplesmente sobre o líder encorajar os seguidores a lidar com a mudança, uma qualidade e um estilo fundamentais no contexto do agronegócio”, conclui.