Blog •  10/05/2022

Como preparar uma boa silagem

Escrito por Hugo Mello, Analista de Mercado
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Artigo Blog Boa Silagem

O uso deste volumoso diminui a necessidade de suplementação com concentrados energéticos

A silagem de milho se destaca como uma boa opção para a conservação do alimento, visando garantir a nutrição adequada dos bovinos em períodos estratégicos, em que não há oferta de forragem.

Uma silagem de boa qualidade impactará todo o sistema produtivo de uma fazenda, pois ela pode ser responsável pela diminuição da necessidade de suplementação com concentrados energéticos, visto que o grão de milho da silagem é rico em carboidrato. Além disso, ela possui fibras fisicamente efetivas, que têm como função estimular a ruminação de bovinos e melhorar a saúde do rúmen.

Existem diversos fatores que podem ser observados no momento da preparação da silagem, desde pontos que envolvem a preparação do solo até o momento de ensilagem do produto.

Pontos relacionados à semeadura e à colheita

Considerando do início ao fim da semeadura, é importante levar em conta a fertilidade e o manejo do solo, a época de plantio, a escolha da semente que atenda às necessidades da produção e ajustes de maquinários.

Com relação ao solo, é fundamental realizar sua análise para entender o grau de fertilidade existente, a necessidade de corretivo de acidez para regulação de pH e qual será o tipo e quantidade de adubação necessária para o objetivo desejado.

A escolha da semente deve passar por avaliações relacionadas à adaptação da planta às condições climáticas, de pluviosidade, sanidade, fertilidade do solo, seu potencial de produção de grãos e de matéria verde.

Os maquinários utilizados para o processo devem se adaptar ao que o produtor tem disponível. Não há nenhuma regra que seja capaz de ditar qual tipo de máquina é a melhor para realizar as operações. É possível produzir bem com pouco, entretanto, a manutenção preventiva é de suma importância para a semeadura.

Contando com a tecnologia para intensificação da semeadura e colheita, há modos de se atingir maior rendimento. Uma das formas seria a partir do uso de máquinas com maior número de linhas para o plantio e de máquinas autopropelidas (automotrizes) na colheita, buscando, dessa forma, atingir mais hectares colhidos por hora.

Outro ponto positivo das automotrizes consiste em melhor processamento do grão com maior eficiência, que promoverá um tamanho de partícula, tanto para o grão quanto para a fibra, adequado para ensilagem.

Momento da colheita e qualidade da silagem

Vale ressaltar que fazer uma silagem com fibra longa e alta disponibilidade de amido possibilitará maior independência da utilização de concentrados na alimentação bovina.

Assim sendo, o ponto ideal para a colheita da cultura acontece quando a planta atinge um teor de matéria seca (MS) em torno de 32 a 38%. Caso seja realizada com automotriz, é possível colher com um teor um pouco maior, visto a eficiência da colheita.

Lauer (1999) sugere que o teor de MS da planta deva ser critério para ter confirmação do ponto ótimo de colheita, utilizando a evolução da linha do leite no grão como indicador do momento de se iniciar as determinações do teor de MS da planta inteira.

Muitos produtores definem o momento da colheita pela observação da planta, mas é importante também olhar para a espiga. A concentração de amido no grão está relacionada à quantidade de MS da planta inteira.

A linha do leite diz respeito a uma divisão no grão com coloração diferente, que sempre caminha do topo do grão para a sua base. Quando essa linha está entre 40 e 70% do grão, ou entre ½ e ⅔ no sentido do topo para a base, a planta apresenta teor de MS entre 32 e 38%.

Figura 1. Grão com ½ da linha do leite (ponto aconselhável de colheita).

Grão com ½ da linha do leite (ponto aconselhável de colheita).
Fonte: Rehagro

Figura 2. Grão com mais de ¾ da linha do leite (passado o ponto de colheita).

Grão com mais de ¾ da linha do leite (passado o ponto de colheita)
Fonte: Rehagro

Figura 3. Teor de MS, amido e teor de fibra (FDN) na silagem de milho em diferentes estágios de maturidade do grão.

Gráfico mostrando Teor de MS, amido e teor de fibra (FDN) na silagem de milho em diferentes estágios de maturidade do grão.
Fonte: Rehagro / Adaptado de Bal et al. (1997)

De acordo com a figura 3, observa-se um aumento do teor de MS e amido do grão de acordo com o avanço da sua maturidade fisiológica. Em ⅔ da linha do leite, a concentração de amido apresenta maiores valores, porém, o teor de fibra (FDN) na planta nesse ponto é menor.

Isso se explica devido ao aumento da proporção de grãos na planta, que ocorre até esses ⅔ da linha (Bal et al. 1997). Assim, o ponto ideal entre ½ e ⅔ da linha do leite se torna o momento ideal para a colheita com o objetivo de produção de silagem.

Caso o período ideal de colheita seja ultrapassado, a planta de milho começa a acumular mais MS, reduzindo o teor de fibra (FDN) e aumentando os teores de lignina, o que reduz a digestibilidade do produto e piora a compactação final.

O teor de fibra (FDN) diz respeito à fração fibrosa da planta, insolúvel em solução à base de detergente neutro quando submetida a análises laboratoriais e corresponde aos carbonos estruturais como celulose, hemicelulose e lignina. A lignina é uma fração não digestível da planta, que dá resistência ao caule, assim, quanto maior seu teor, menor a qualidade e a digestibilidade da silagem.

Com a colheita em andamento, é importante acompanhar o processamento do milho para analisar se a quebra dos grãos está sendo realizada de forma correta. O processamento visa expor o amido, obter um corte ideal da planta em tamanho adequado para a compactação e produzir fibras com o tamanho capaz de estimular a ruminação dos bovinos.

Cuidados no momento de compactação e vedação

A compactação do silo é responsável pela retirada de todo o oxigênio contido na matéria. É ideal que o peso dos maquinários seja de 30% em relação à quantidade de massa que é descarregada no silo durante uma hora e que haja compactação do material durante todo o processo.

O ideal é que a vedação seja feita com lona resistente a danos externos e que tenha barreira completa contra a entrada de oxigênio. Com a vedação feita corretamente, as bactérias aeróbicas não serão capazes de se alimentar do produto ensilado, aumentando a qualidade da silagem.

O silo deve permanecer vedado em torno de 60 dias, no mínimo, porém quanto mais tempo vedado, melhor será a qualidade. Nesse período ocorrerá a fermentação da massa com redução de pH, o que inibirá a atividade bacteriana indesejável.

Em resumo: o planejamento garantirá o bom resultado

Realizar um bom manejo de solo, semear a cultura no momento adequado, utilizar adubação, controlar pragas e, principalmente, avaliar o ponto ideal de colheita e seguir as recomendações voltadas para o momento da compactação e vedação serão pontos que, se realizados em conjunto, garantirão a produção de uma boa silagem.