Documento já foi protocolado na OMC e país asiático estabelece alterações nos seus padrões internos de classificação da soja.
Nos últimos vinte anos, o Brasil se tornou o maior produtor e exportador de soja do mundo e a China é o principal destino do grão brasileiro. Só entre janeiro e junho deste ano (2022), cerca de 35 milhões de toneladas do grão foram importadas pelo país asiático, segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia – Secex.
Apesar dos números grandiosos, a Administração Estatal de Regulamentação do Mercado e a Administração de Padronização da República Popular da China elaboraram e protocolaram na Organização Mundial do Comércio – OMC – um documento que estabelece alterações nos seus padrões internos de classificação de soja. Entre as modificações, estão o aumento no teor de óleo e proteína e a redução de umidade dos grãos, de 14% para 13%. As novas propostas não se referem só ao Brasil, mas a todos os países que fazem parte da OMC.
Os países-membros da Organização Mundial do Comércio receberam a comunicação das novas sugestões dos chineses e estão na fase de avaliação, como explica Ricardo Arioli, presidente da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA. “Depois que os países-membros recebem a notificação da OMC, existe uma espécie de consulta pública mundial. Então, estamos nessa fase ainda. É preciso dizer que a China não está reclamando da soja brasileira. Ela só está comunicando que pretende adotar um novo padrão de qualidade para a soja que importar e está querendo ouvir o que os países interessados têm a dizer quanto a isso.”
De acordo com a Embrapa, para que a soja possa ser considerada de qualidade, é preciso que tenha altas taxas de vigor, germinação e sanidade, assim como garantias de pureza física e varietal, e não conter sementes de plantas daninhas.
As sugestões da China para a soja devem alterar o padrão atual brasileiro (GB 1352/2009), que expõe sobre a integridade física dos grãos. Uma das propostas é que os grãos sejam inseridos em cinco tipos, dependendo do percentual de perfeição, começando no grupo 1, que deve ter 95% ou mais de exemplares ideais, até o grupo 5, com 75% de amostras ideais. Como explica Ricardo Arioli, a “Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária – CNA – pediu um canal de conversa com a China para entender melhor como é esse novo padrão que eles estão sugerindo. O padrão brasileiro é baseado em percentual máximo de defeitos e o deles é pelo percentual mínimo de grãos perfeitos. Então, precisamos saber quais são os defeitos que eles medem, porque podem não ser os mesmos que os nossos. A China tem uma avaliação de fermentado e de grão queimado, por exemplo, que pode não ser a mesma avaliação que fazemos no Brasil. A soja brasileira pode se adaptar aos padrões que a China vem pedindo, sem dúvida nenhuma. Mas para isso precisamos saber mais detalhes sobre estas propostas.”
De acordo com a análise da OMC, o novo padrão será aplicado aos grãos de soja comercial comprados, armazenados, transportados, processados e vendidos pelos chineses. Algumas alterações recaem também na metodologia de testagem, regras de inspeção, rótulos, embalagem, estocagem e transporte.
O comércio internacional de soja começou a crescer quando a China concedeu livre acesso às importações para atender a sua demanda. Políticas internas que favorecem a produção de grãos e a rápida expansão da capacidade de processamento impulsionaram o crescimento das compras, entre elas a de grãos, tornando-se assim o maior país importador no mundo, sendo responsável por 60% das importações mundiais.
O padrão oficial de classificação da soja brasileira é regulamentado pela Instrução Normativa Mapa n. 11/2007 e apresenta especificações técnicas condizentes e alinhadas com o mercado mundial. Aproveitando as novas sugestões da China, o Brasil também fará uma revisão no padrão oficial do grão.
A sugestão chinesa para incluir um novo padrão para a oleaginosa deve substituir um padrão de 2009, segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, que publicou no começo deste ano a Portaria 532. Esta portaria submete à consulta pública a proposta de revisão do padrão oficial de classificação da soja e de seus subprodutos, considerando os requisitos de identidade e qualidade, amostragem, modo de apresentação, marcação ou rotulagem.
Ricardo Arioli destaca que a revisão do regulamento técnico brasileiro tem como objetivo principal a melhoria e a adequação da norma utilizada até hoje: “O Mapa já colocou em consulta pública, e quem quis deu suas sugestões. Em uma primeira conversa, foi lançado um padrão brasileiro com a ordenação de cinco tipos diferentes de grãos. Logo depois, passamos para três tipos, que a meu ver é o ideal, porque consegue fazer uma melhor distinção das sementes, como as tratadas, as tóxicas e as sementes de outras espécies, além de facilitar a logística dos produtores, como nas questões de armazenamento, por exemplo.” Ele lembra ainda do alinhamento que se deve ter com o que a China está pedindo: “Uma maior objetividade na classificação da soja, maior clareza nos conceitos previstos e uma melhor manutenção na qualidade da nossa soja são fundamentais, dada a importância da soja para a agricultura brasileira e a relevância que temos frente ao cenário internacional. Não podemos andar na contramão do nosso maior mercado consumidor”, conclui.
As discussões no Brasil relacionadas às propostas da China têm à frente o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, com as participações da Embrapa e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária – CNA, sem prazo para conclusão. “Os países-membros da OMC ainda não se manifestaram. Não há um prazo final para que a soja se adapte às exigências da China. Tudo ainda está em fase de negociação, de conversas, mas logo chegaremos a um consenso com os chineses. A revisão do Brasil também não tem um prazo, mas em compensação está mais adiantada do que a deles. No fim, tudo se ajeita. Não tem como eles ficarem sem a nossa soja e o Brasil não tem como ficar sem a compra deles”, finaliza o presidente da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Ricardo Arioli.
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